
Um terremoto de magnitude 8,8 que atingiu a região russa de Petropavlovsk-Kamchatsky na última terça-feira (29) foi o mais intenso desde o sismo de 2011 que causou o desastre nuclear de Fukushima, no Japão. Apesar da magnitude semelhante, o fenômeno recente não resultou no mesmo rastro de destruição que deixou quase 20 mil mortos há 14 anos. Especialistas apontam uma combinação de fatores geográficos e tecnológicos para essa diferença.
O epicentro no meio do oceano Pacífico foi determinante para reduzir os impactos. “As pessoas sentiram a passagem das ondas sísmicas, mas, ao chegar nas construções, elas não tiveram tanta intensidade para causar uma destruição”, explicou o sismólogo Bruno Collaço, da USP, ao Uol. O tremor ocorreu em zona de subducção, onde placas tectônicas se chocam, mas sua localização afastada de áreas densamente povoadas foi crucial.
O sistema de alertas de tsunami também funcionou com eficiência. “O aviso de tsunami evacuou bastante a costa, principalmente no Japão. Mais de um milhão de pessoas saíram do litoral”, relatou Collaço. As ondas que atingiram o Japão não ultrapassaram um metro de altura, contrastando com os 30 metros do tsunami de 2011.
Tsunami hits the Russian Coast..!!#earthquake #Tsunami pic.twitter.com/rBMhxNiWD5
— Dr. Anita Vladivoski (@anitavladivoski) July 30, 2025
A física dos terremotos ajuda a entender por que alguns causam mais destruição que outros. Apesar de classificado como “megaterremoto”, o evento desta semana liberou quase três vezes menos energia que o de Fukushima, segundo o Serviço Geológico dos EUA. A escala de magnitude é logarítmica – cada ponto a mais representa 32 vezes mais energia liberada.
As características do fundo oceânico também influenciaram. “Características como baías podem amplificar alturas das ondas; tsunamis também podem ser difratados (desviados) ao redor de ilhas”, explicou o sismólogo Stephen Hicks, da University College London. Neste caso, a formação das ondas foi atenuada pela dinâmica da ruptura tectônica.
A região menos povoada do extremo oriente russo também contribuiu para reduzir danos. Enquanto o terremoto de 2011 atingiu áreas densamente habitadas do Japão, o tremor recente ocorreu próximo à península de Kamchatka, zona de pescadores com baixa densidade populacional. O Kremlin confirmou que não houve mortes no território russo.
Especialistas ressaltam que a ciência ainda não pode prever terremotos, mas sistemas de alerta melhoraram significativamente desde 2011.
“Alertas iniciais são baseados apenas na localização da fonte e no tamanho estimado, mas só isso não determina quanta água será movida”, explicou Diego Melgar, cientista de tsunamis da Universidade do Oregon.