
Pela primeira vez na história, o Brasil estabeleceu um oficial general como adido militar na China. No dia 2 de junho deste ano, o presidente Lula assinou decreto designando uma série de oficiais das Forças Armadas para atuar no exteror. Apenas Estados Unidos e China receberam generais.
Segundo o DCM apurou, o militar designado para o país asiático é o general Rovian Alexandre Janjar (foto acima), especialista em relações com a China, tendo já feito um curso de Alto Comando naquele país.
Egresso do Curso de Inteligência Estratégica da Escola Superior de Guerra (ESG), ele possui graduação em Ciências Militar pela Academia Militar das Agulhas Negras (1993), graduação em Instrutor de Educação Fìsica pela Escola de Educação Física do Exército (1997) e mestrado em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (2001). Também tem mestrado em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (2010), especialização no Curso Avançado de Inteligência pela Escola de Inteligência Militar do Exército (2012) e o curso na ESG (2015).
Assim, de forma inédita, o Brasil passa a ter em solo chinês um alto nível de representação militar. Na verdade, são dois militares de patente máxima. Além do general, um contra-almirante da Marinha será enviado como representante estratégico junto ao governo da República Popular da China.
Até hoje, só os EUA contavam com adidos militares brasileiros com status de oficial general, reflexo da histórica dependência do Brasil em relação às forças militares norte-americanas. Agora, a China ganha protagonismo com um oficial general do Exército Brasileiro, um almirante da Marinha e mais três oficiais superiores designados para funções de adjuntos e adido aeronáutico.
Para o cientista social Francisco Carlos Teixeira Da Silva, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola Superior de Guerra, a designação dos militares de alta patente na China está relacionada a uma série de fatores, entre eles o desejo brasileiro de adquirir cada vez mais armas da nação asiática e menos do Estado de Israel.
“É uma novidade, sim, a designação. Isso aponta para compras militares e transferência de tecnologia. A performance das armas chinesas na breve guerra entre Índia e Paquistão impressionou muito os setores militares. E também desqualificou o equipamento francês (caças Rafale, adquiridos pelo Brasil)”, afirma Teixeira. “Estamos falando de jatos de caça, equipamento de detecção aérea e sistemas de defesa antiaérea”, conclui.
O especialista se refere a um curto conflito ocorrido neste ano na região da Caxemira indiana, onde o lado paquistanês fez uso de equipamentos chineses, enquanto os indianos utilizaram armamentos norte-americanos e franceses.
Brasil pode trocar armas israelenses por chinesas
Teixeira analisa, ainda, que a aproximação militar do Brasil com a China ocorre tambpem porque as forças brasileiras buscam substituir o Estado de Israel como fornecedor de armamentos, além de temerem que a ofensiva de Donald Trump contra as instituições brasileiras acabe por resvalar nas relações militares entre EUA e Brasil.
“Neste momento estamos fazendo manobras militares no sertão e na caatinga de Pernambuco com contingentes norte-americanos, em um curso especial de guerra no sertão. Neste momento, os americanos estão lá, e já tinham feito antes manobras semelhantes há dois anos”, explica o professor.
“Apesar disso, há, sim, vários militares se manifestando no sentido de que o prosseguimento das sanções norte-americanas ao Brasil acabe por levar a um afastamento de todo tipo de contato, inclusive sobre equipamentos de tecnologia, esse é um medo real. É possível, sim, que este afastamento venha a acontecer, mas essa é uma tendência muito recente, e essas decisões são tomadas com antecedência”, diz Teixeira.
O especialista pondera, porém, que os motivos atuais para a aproximação militar do Brasil à China são outros: “Existem ofertas da China de troca de equipamentos militares por produtos agrícolas brasileiros. Além disso, a grande novidade foi a decisão do Lula (contra manifestação do Alto Comando do Exército) de não mais comprar equipamentos militares do exército israelense. Isso vinha sendo discutido por Celso Amorim e Mauro Vieira (ministro das Relações Exteriores), havia um certo mal estar do Brasil em comprar armas de Israel, alimentando o complexo militar israelense, que está promovendo um genocídio em Gaza”.