
Cada vez entendo melhor a máxima de Napoleão, de que nunca se deve interromper o inimigo quando ele estiver cometendo um erro.
Na política, como na guerra, as vitórias são conquistadas não apenas por nossos acertos, mas também pelos erros dos adversários.
O apoio servil da família Bolsonaro e seus vassalos na extrema direita, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, às agressões arbitrárias, injustificadas, prepotentes, de Donald Trump ao Brasil, repercutiu muito mal na opinião pública.
Todos aqueles que apoiaram, de maneira explícita ou tácita (se calando, por exemplo), essa tentativa grotesca de humilhar o Brasil, de subjugar nossas instituições e nossa democracia, cometeram um suicídio político.
O ataque desprezível de Donald Trump à nossa soberania provocou um verdadeiro terremoto na política brasileira, com reflexos imediatos na aprovação do governo e nas perspectivas eleitorais de 2026. As placas tectônicas se movimentaram, e não foi em favor da direita entreguista, corrupta e subserviente.
Segundo pesquisa Atlas/Bloomberg divulgada hoje, o percentual de brasileiros que passou a apoiar a política externa do governo Lula saltou de 50% em novembro de 2023 (última vez em que a Atlas fez essa pergunta, e já era um ótimo número) para um patamar recorde de 60%!

O despertar do sentimento nacional
Um nervo foi tocado no Brasil.
Os ataques de Trump à soberania nacional despertaram um sentimento patriótico que há muito não se via. A pesquisa Atlas/Bloomberg confirma o que já era fácil observar nas redes sociais: uma onda gigante de indignação contra Donald Trump e contra os políticos que não reagiram imediatamente com uma postura firme em defesa da soberania nacional.
A reação negativa foi especialmente forte contra Tarcísio de Freitas, que tentou justificar a violência de Trump contra o Brasil, e culpar o presidente Lula pelos caprichos autoritários de um chefe de Estado metido a dono do mundo.
Segundo a Atlas/Bloomberg, a aprovação de Lula subiu de 47,3% para 50%, enquanto sua desaprovação caiu de 51,8% para 50,3%. Uma melhora total de 4 pontos em favor de Lula.
Analistas experientes costumam dizer que uma aprovação superior a 50% gera possibilidade de vitória no primeiro turno em eleições presidenciais.
Importante destacar, no entanto, que a aprovação do presidente já vinha crescendo antes mesmo desses ataques de Trump, provavelmente em função do arrefecimento da inflação de alimentos, um fator que, aparentemente, tem uma correlação direta com a aprovação de Lula entre as famílias de baixa renda.

A força da política externa
A pesquisa mostra que 61,1% dos brasileiros consideram que Lula representa o Brasil melhor do que Bolsonaro no plano internacional, contra apenas 38,8% que pensam o contrário.
Outro dado muito emblemático: pela primeira vez mais brasileiros (38%) preferem o Brasil mais próximo dos Brics do que dos Estados Unidos (31%).
A imagem da China também melhorou: se em maio de 2025, apenas 4% responderam que o Brasil deveria se aproximar mais da China, hoje esse número triplicou para 12%.
Esse é um tipo de sentimento muito forte e resiliente, porque vai além da economia, e além desse moralismo de goela tão típico do senso comum antipolítica.
Será complicado para mídia conservadora e liberal, partidos de direita, e influencers da Faria, desconstruírem um sentimento patriótico que vem emergindo das entranhas da consciência popular.

A rejeição às tarifas e a Trump
A imagem pessoal de Donald Trump entre os brasileiros se deteriorou de maneira dramática: 63,2% agora têm uma imagem negativa do ex-presidente americano, contra apenas 31,9% que mantêm uma visão positiva. Esses números mostram que Trump não tem capital político no Brasil para sustentar suas investidas contra o país.
Pelo contrário, suas ações apenas fortalecem a rejeição popular e consolidam o apoio à postura firme do governo Lula.
O impacto econômico das tarifas de Trump também preocupa os brasileiros: 63,5% consideram que as medidas terão alto ou muito alto impacto na economia nacional.
Essa rejeição a Trump não é artificial, pueril, ou estética: metade dos brasileiros entendem que as justificativas usadas pelo presidente americano para impor tarifas ao Brasil podem ser consideradas uma “ameaça à soberania brasileira”.

A capacidade de negociação
Mesmo assim, há um otimismo cauteloso sobre a capacidade de negociação do Brasil. Quando questionados se acreditam que o governo federal será capaz de negociar e chegar a um acordo com os Estados Unidos para reduzir as tarifas, 47,9% dos brasileiros responderam que sim, contra 38,8% que não acreditam nessa possibilidade.
Entre os eleitores de Lula, o otimismo é ainda maior: 78,6% acreditam na capacidade de negociação do governo, enquanto apenas 3,9% são pessimistas.
As consequências eleitorais
As consequências políticas desse episódio pode ir além dos números de aprovação presidencial. Ao fim da ditadura militar, a direita enfrentou muita dificuldade por ter se associado à ditadura e, portanto, à imagem de inimiga da democracia. O que pode acontecer hoje é algo semelhante. Caso permaneça amarrada a esse bolsonarismo desesperado e suicida, a direita brasileira pode pespegar em si a pecha de inimiga de nossa soberania. O que talvez seja um estigma ainda pior.
Trump e seus aliados brasileiros cometeram um erro estratégico monumental ao subestimar o sentimento patriótico do povo brasileiro.
A tentativa de Tarcísio de Freitas, e de outros líderes da direita, de minimizar as agressões de Trump ou de culpar o governo brasileiro pela escalada comercial se mostrou um tiro no pé. A população brasileira, independentemente de suas preferências partidárias, não aceita passivamente ataques à soberania nacional, além de considerar as tarifas de Trump como totalmente injustificadas.

Para o governo Lula, esse episódio representa uma oportunidade única de consolidar sua liderança tanto no plano interno quanto no cenário internacional. A alta aprovação à sua política externa oferece uma base sólida para construir um discurso poderoso em defesa da soberania brasileira, que poderá ser uma alavanca simbólica muito eficaz nas eleições do ano que vem, inclusive para o legislativo.
A família Bolsonaro arrastou a sua base para uma posição de apoio a Donald Trump, exatamente no momento em que a maioria do país reage com profunda indignação aos ataques que o presidente americano passou a fazer às nossas instituições democráticas.
A direita se vê diante, portanto, de um dilema insolúvel.
Por um lado, manter o alinhamento com Trump significa abandonar definitivamente qualquer pretensão patriótica e assumir publicamente o papel de submissa a interesses estrangeiros. Romper com Trump, por outro, significaria acusar a família Bolsonaro de traição ao país, e perder uma boa parte desse eleitorado altamente radicalizado, beirando o fanatismo, que se junta ao redor do ex-presidente.