
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), conseguiu reabrir a sessão legislativa na noite desta quarta-feira (6), após mais de duas horas de negociação com deputados da oposição, que ocupavam a Mesa Diretora em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL). O plenário da Casa estava fechado desde terça-feira (5), quando parlamentares bolsonaristas iniciaram o ato para pressionar o Supremo Tribunal Federal.
A ocupação teve início após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que impôs medidas restritivas ao ex-presidente, incluindo uso de tornozeleira eletrônica. Para conter o bloqueio da sessão, Motta ameaçou suspender por até seis meses o mandato de deputados que impedissem os trabalhos e afirmou que, se necessário, acionaria a polícia legislativa para retirada dos manifestantes.
Durante o protesto, a deputada bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) levou a filha bebê ao plenário e desafiou Motta nas redes sociais, sentando-se na cadeira da presidência da Câmara. Em postagem, afirmou: “Quantas coisas poderíamos fazer se o titular dessa cadeira tivesse coragem”. A deputada Carol de Toni (PL-SC) também levou a filha para o ato.
A presença de crianças no protesto chamou atenção e gerou críticas. A oposição, no entanto, manteve o tom provocativo. Zanatta rebateu a ameaça de Motta dizendo que a polícia legislativa “não vai fazer isso com a gente”. O clima se manteve tenso até o início da noite, quando o presidente da Câmara conseguiu retomar o controle do espaço.
Para viabilizar a reabertura da sessão, a presidência determinou o fechamento do acesso ao plenário e posicionou agentes da polícia legislativa na entrada. Motta então iniciou conversas reservadas com líderes partidários, que resultaram na desocupação da Mesa e na retomada das atividades legislativas.
A ocupação da Câmara e do Senado é parte da estratégia bolsonarista para pressionar o Congresso a votar uma proposta de anistia que possa beneficiar Bolsonaro e aliados. A tática tem gerado impasses e paralisado os trabalhos legislativos, com adesão de partidos como PL, Novo, PP e União Brasil.
Motta, apesar de ser do Republicanos, adotou tom firme contra o bloqueio. Disse que o direito de manifestação não pode se sobrepor ao funcionamento das instituições e sinalizou que novas tentativas de obstrução serão tratadas com rigor. A retórica visava conter a crescente insatisfação com a escalada bolsonarista dentro do Congresso.
Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado e pode pegar até 44 anos de prisão, segundo a Procuradoria-Geral da República. O protesto no Congresso tem sido a principal ação da oposição diante da prisão domiciliar decretada por Moraes. A base governista monitora os desdobramentos, mas ainda sem medidas concretas de resposta.