
Nos Estados Unidos, a Coca-Cola é adoçada com xarope de milho, diferente do Brasil, em que é usado o açúcar de cana. Agora, Donald Trump quer mudar isso. Em publicações nas redes sociais, o presidente estadunidense afirmou que a empresa teria concordado em adotar o açúcar de cana também no mercado dos EUA.
Segundo ele, seria o certo a fazer porque “é simplesmente melhor”. A Coca-Cola, por sua vez, não confirmou a alteração na fórmula, mas disse que “agradece o entusiasmo do presidente” e prometeu novidades em breve.
A iniciativa de Trump reacendeu uma discussão antiga: afinal, o que há por trás da fórmula da Coca-Cola? A resposta é tão complexa quanto se espera de uma receita muitas vezes chamada de “o maior segredo do mundo”. O que se sabe, no entanto, é que o refrigerante mais consumido do planeta nasceu como uma espécie de elixir medicinal, foi vendido em farmácia e já teve até sua versão alcoólica.
A receita original da Coca-Cola tem data e local de “nascimento”: 8 de maio de 1886, em Atlanta, no estado da Geórgia. Foi naquele dia que o farmacêutico John Pemberton levou um jarro do xarope recém-criado até a farmácia Jacobs. A princípio, era um tônico para males comuns como dores de cabeça e problemas no estômago.
Apesar de ser visto quase como um remédio, o gosto não tinha nada de ruim, pelo contrário: era descrito como “delicioso e refrescante”, especialmente após a inclusão de água gaseificada, quando a bebida de Pemberton passou a ser vendida por 5 centavos o copo.
Pemberton não era nenhum novato com a alquimia das bebidas. Antes da receita da Coca-Cola, ele já havia criado um “Vinho de Coca”, por assim dizer. Era a mesma fórmula utilizada no refrigerante original, mas com teor alcoólico e sabor de um vinho Bordeaux misturado a folhas de coca.
Acontece que, meses após o lançamento, em 1885, uma legislação que dava aos condados a opção de decidirem se permitiam ou proibiam a venda de bebidas alcoólicas entrou em vigor. A chamada Lei Seca. E a Geórgia decidiu pelo banimento. Coube a Pemberton, então, retirar a parte do álcool de suas garrafas de French Wine Coca, restando apenas o… refrigerante Coca-Cola.
O criador, porém, nunca teve a dimensão do que criou. Como informa um artigo publicado pela própria empresa de refrigerantes: “O Dr. Pemberton nunca chegou a perceber o potencial da bebida que criou. Aos poucos, vendeu partes de seu negócio para diferentes sócios e, pouco antes de sua morte em 1888, vendeu o que lhe restava da participação na Coca-Cola para Asa G. Candler”.
Antes de sua morte, Pemberton transmitiu a receita original para um grupo seleto de pessoas e, dizem, nunca a escreveu no papel. Mesmo com diferentes donos, ninguém nunca divulgou qual seria a fórmula original.
Em 2011, um documento antigo voltou a chacoalhar o mundinho dos aficionados pelo refrigerante (ou apenas apreciadores de uma bela fofoca): um podcast norte-americano divulgou imagem de um papel antigo, que supostamente traz o jeito certo de se fazer a bebida como Pemberton pensou.
O “This American Life” afirmou ter encontrado a receita original do refrigerante mais famoso do planeta. A descoberta teria vindo de uma página esquecida do jornal Atlanta Journal-Constitution, datada de 8 de fevereiro de 1979, que mostrava uma fotografia de um antigo caderno de farmácia, com uma lista escrita à mão, em 1886, por um amigo de Pemberton.
Segundo o programa, o caderno foi passado de geração em geração até chegar às mãos de uma viúva na cidade de Griffin, na Geórgia. A lista de ingredientes revela detalhes até então desconhecidos do público, incluindo na composição o “Merchandise 7X”, o concentrado que representa apenas 1% da bebida, mas é apontado como responsável por seu sabor inconfundível.

No documento, é possível ler:
Extrato fluido de coca: 3 drams USP
Ácido cítrico: 3 oz (onças)
Cafeína: 1 oz
Açúcar: 30 (quantidade incerta, possivelmente libras)
Água: 2,5 galões
Suco de lima: 2 pints, 1 quart (aproximadamente 1,4 litro)
Baunilha: 1 oz
Caramelo: 1,5 oz ou mais para dar cor
Em cada cinco galões de xarope, adicione 2 oz da seguinte mistura de sete ingredientes aromatizantes:
Álcool: 8 oz
Óleo de laranja: 20 gotas
Óleo de limão: 30 gotas
Óleo de noz-moscada: 10 gotas
Óleo de coentro: 5 gotas
Óleo de neroli: 10 gotas
Óleo de canela: 10 gotas
Mesmo que parte da receita tenha mudado e seja de conhecimento público (como a remoção da planta da cocaína no início do século 20 e a substituição do açúcar por xarope de milho nos anos 1980), a marca continua a cultivar o mistério como parte essencial da sua identidade.
Dizem que apenas dois executivos da empresa têm acesso ao segredo, que fica guardado dentro de um cofre de alta segurança.
Em entrevista a The Atlanta Magazine em 2019, Scott Leith, diretor sênior de comunicações financeiras da Coca-Cola, afirmou: “Existem muitas proteções para garantir que apenas um pequeno número de pessoas conheça toda a fórmula. Não podemos dizer mais nada sobre isso”.