
Momentos antes de ser presa na Itália, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) concedeu uma entrevista ao jornal ‘La Repubblica’, publicada nesta terça-feira (30). Localizada em um apartamento nos arredores de Roma, ela se mostrou surpresa com a abordagem do repórter. ‘”Como vocês me acharam? A polícia não conseguiu, mas vocês conseguiram”, afirmou.
Segundo o jornalista Marco Carta, ela pediu que seu endereço não fosse revelado. “Agora terei que mudar de casa.” Na conversa, Zambelli se declarou inocente e atribuiu sua condenação a perseguição política no Brasil.
“Fui condenada por motivos políticos. Não tenho nada a esconder. Vim para a Itália porque sou italiana e gostaria de continuar vivendo aqui”, afirmou. Ela foi condenada a dez anos e oito meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), acusada de envolvimento com ataques aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo a defesa, Zambelli teria se entregado voluntariamente às autoridades italianas. Na entrevista, a deputada negou qualquer ligação com os crimes e alegou que conheceu o hacker envolvido “por acaso”. Ela também se queixou de problemas de saúde e disse ter escolhido a Itália em vez dos Estados Unidos porque “os tratamentos seriam caros” no país norte-americano. “Ninguém me garantiu impunidade aqui. Pelo contrário”, declarou.
A deputada revelou que chegou a ser sondada para disputar cargos políticos na Itália por partidos de direita, como a Liga e o Fratelli d’Italia, mas recusou. “Sou uma pessoa séria. Meu marido é das forças especiais da polícia. Jamais faria algo imprudente”, disse.
Ela ainda afirmou que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teria conversado com Matteo Salvini, líder da Liga e aliado da premiê italiana Giorgia Meloni, sobre sua situação. “Não sei se Salvini prometeu algo. Espero que sim, porque sou inocente.”

Zambelli demonstrou frustração com o que classificou como pouca solidariedade da extrema direita italiana. “Esperava algo mais. De Salvini, mas também de Giorgia Meloni, que é amiga de Trump. E Trump sabe o que está acontecendo no Brasil. Não é só sobre mim. Sou a primeira condenada, mas isso acontecerá com outros.”
A parlamentar afirmou que, apesar do desejo de retornar ao Brasil, teme ser presa de imediato e disse que não tem condições físicas para suportar a detenção. “Sofro de síncopes, posso cair a qualquer momento. Não posso ficar sozinha”, relatou. Durante a entrevista, pediu para ser fotografada usando um boné, alegando estar reclusa há dois meses e não querer aparecer com cabelos brancos diante dos apoiadores.
Com a prisão já efetuada, o processo de extradição agora depende das autoridades italianas. A Justiça local tem até 48 horas para confirmar a prisão preventiva e, em seguida, o Ministério da Justiça da Itália avaliará o pedido do Brasil. A solicitação foi enviada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, após a conclusão do julgamento.
Segundo o jurista Vladimir Aras, ex-secretário de Cooperação Internacional da PGR, o governo italiano pode entender que não há motivos para dar prosseguimento ao pedido. Ele compara o caso ao do ex-jogador Robinho, cuja extradição para a Itália foi negada pelo Brasil por ele ser cidadão brasileiro. Na ocasião, a Itália solicitou que Robinho cumprisse a pena no Brasil, alternativa que, segundo ele, também pode ser adotada com a parlamentar.
Caso o Ministério da Justiça italiano aceite seguir com a extradição, o processo será analisado pela Corte de Apelação de Roma, sob responsabilidade do procurador-geral da Itália. O trâmite pode levar em média seis meses, e durante esse período a defesa da deputada será ouvida. O governo brasileiro pode, inclusive, contratar um advogado para atuar no caso.