
Mais de 100 mil pessoas, segundo a polícia de Berlim, participaram neste sábado (27) da manifestação “Todos os olhos em Gaza”, que tomou as ruas da capital alemã em protesto contra a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. O ato foi convocado pelo partido A Esquerda, quarta maior força do Parlamento do país, e contou com a adesão de cerca de 50 organizações e ativistas. Os organizadores, porém, estimam que mais de 100 mil pessoas tenham comparecido.
Durante quase cinco horas, a marcha saiu da Alexanderplatz, no antigo lado oriental da cidade, e seguiu até o monumento da Grande Estrela, local que tradicionalmente abriga grandes concentrações populares em Berlim. Quase 2.000 policiais foram mobilizados para acompanhar o protesto, que registrou episódios isolados de tensão devido a contramanifestações, mas foi em geral pacífico.
O evento ocorre em um momento de intenso debate interno sobre a lei aprovada em 2023 pelo Parlamento alemão, que amplia a interpretação de antissemitismo e tornou mais restrita a realização de protestos contra Israel. A medida foi votada após os ataques do Hamas, mas tem sido criticada por juristas e entidades de direitos humanos, que argumentam que ela limita a liberdade de expressão.
“Estamos todos aqui hoje porque exigimos o fim da cumplicidade do nosso governo na morte de mais de 60 mil palestinos, incluindo 18 mil crianças”, declarou um dos promotores da manifestação. O mesmo orador condenou também os crimes cometidos pelo Hamas e o sequestro de reféns, ressaltando que “um crime jamais justificará outro”.
🇩🇪🇵🇸 Mais de 100 mil pessoas saem às ruas de Berlim pedindo o fim da guerra em Gaza.pic.twitter.com/usAmfUNUUT
— Eixo Político (@eixopolitico) September 27, 2025
A Alemanha tem resistido a se juntar ao movimento europeu de reconhecimento do Estado da Palestina, liderado por França, Espanha e outros países. Durante a Assembleia Geral da ONU nesta semana, Berlim manteve posição contrária, apesar da pressão internacional e do crescente descontentamento interno.
Essa postura é vista como um reflexo da dívida histórica do país com Israel, expressa na frase da ex-primeira-ministra Angela Merkel de que “a existência de Israel é razão de Estado para a Alemanha”.
A líder do partido A Esquerda, Ines Schwerdtner, foi uma das vozes mais duras no ato. Ela acusou o governo do premiê Friedrich Merz de cumplicidade e classificou a ofensiva israelense em Gaza como genocídio. “Falam de razões de Estado enquanto hospitais são reduzidos a escombros. Permanecem em silêncio sobre o genocídio”, declarou.
Embora não tenha aderido ao reconhecimento da Palestina, o governo alemão suspendeu exportações de armas a Israel e classificou a situação em Gaza como “inaceitável”. O ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, reafirmou que a solução de dois Estados continua sendo a única saída viável para o conflito.
A manifestação também expôs as contradições dessa posição. Enquanto slogans considerados inconstitucionais foram reprimidos pela polícia, muitos cartazes criticavam diretamente o governo israelense. Uma manifestante carregava um cartaz que comparava Netanyahu a Hitler e Gaza a Auschwitz, numa analogia polêmica que ecoou o peso do passado alemão na atual conjuntura.