
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à atuação de Israel na Faixa de Gaza durante sua participação em uma conferência sobre a Palestina na Assembleia Geral da ONU, nesta segunda-feira (22). Em um discurso contundente de pouco menos de cinco minutos, Lula chamou as ações de Israel de “extermínio do povo palestino” e acusou o governo de Tel Aviv de tentar destruir o sonho de um Estado palestino.
“Isso que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação. Tanto Israel quanto a Palestina têm direito de existir”, afirmou o presidente brasileiro, ao destacar que a guerra em Gaza vai além de uma simples disputa territorial, envolvendo também a questão da autodeterminação do povo palestino.
Lula, que vem se destacando como um defensor intransigente da causa palestina, também fez duras críticas à paralisia do Conselho de Segurança da ONU, que, segundo ele, tem falhado em agir de forma eficaz para impedir a continuidade da violência em Gaza.
“O conflito entre Israel e Palestina é o símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo. E mostra que a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU”, disse Lula, fazendo referência ao poder de veto utilizado por países como os Estados Unidos para barrar resoluções que visam pôr fim à guerra.
Lula criticou ainda a postura dos Estados Unidos, cujo governo de Donald Trump tem vetado resoluções em favor de medidas mais duras contra Israel.
“Esse veto vai contra a vocação universal da ONU, bloqueando a admissão de um Estado cuja criação deriva da autoridade da própria Assembleia-Geral”, afirmou o petistapetista, ressaltando a dificuldade da Palestina em se afirmar como um Estado soberano diante dos obstáculos colocados pela diplomacia internacional.
Veja a fala na íntegra:
O presidente brasileiro também trouxe à tona o histórico de decisões tomadas pela ONU para a criação de um Estado palestino, mencionando o plano de partilha da Palestina aprovado em 1947, sob a presidência do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. “Naquela ocasião, nasceu a perspectiva de dois Estados, mas só um se materializou”, afirmou Lula, destacando o direito legítimo do povo palestino de ter seu próprio território e governo.
Lula foi enfático ao questionar a viabilidade do projeto palestino diante da ocupação de territórios israelenses. “Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real? E como construir um governo sem empoderar a Autoridade Palestina?”, perguntou o presidente, criticando a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Em seu discurso, o presidente também voltou a chamar as ações de Israel em Gaza de genocídio, referindo-se ao recente relatório de uma comissão de inquérito da ONU. Além disso, Lula reafirmou a posição do Brasil em apoiar o processo aberto pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra Israel.
“O governo brasileiro entrou como parte do processo para cobrar responsabilidades das ações de Israel em Gaza”, destacou o petista.
Lula também condenou os ataques terroristas do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, mas fez questão de ressaltar que o direito de defesa não justifica a matança indiscriminada de civis. “Os atos terroristas cometidos pelo Hamas são inaceitáveis, e o Brasil foi enfático ao condená-los, mas o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis”, afirmou.
Ao final de sua fala, Lula lamentou a grave crise humanitária em Gaza, citando dados sobre a fome no território palestino. “Meio milhão de palestinos não têm comida suficiente — mais do que a população de Miami ou de Tel Aviv”, disse o presidente, criticando a negligência internacional com a situação de milhares de palestinos.
Lula também saudou os países que reconheceram o Estado Palestino recentemente, como França, Reino Unido, Canadá e Portugal, e afirmou que o Brasil continuará a reforçar o controle sobre as importações de produtos de assentamentos ilegais da Cisjordânia, além de manter suspensas as exportações de material de defesa que possam ser usados em crimes contra a humanidade.
O discurso de Lula ocorreu após a fala do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que se declarou pronto para governar a Faixa de Gaza, e do presidente francês, Emmanuel Macron, que oficializou o reconhecimento do Estado Palestino pela França. A França se tornou o terceiro país do G7 a reconhecer a Palestina, acompanhando Reino Unido e Canadá, e se juntando a uma crescente coalizão internacional em apoio à causa palestina.