
O Texas vive uma cena que renderia discursos inflamados sobre “venezuelização”. Mais de 50 deputados estaduais do Partido Democrata deixaram o estado para impedir a votação de um novo mapa eleitoral, o que garantiria aos republicanos cinco cadeiras extras no Congresso dos EUA — algo decisivo numa Câmara onde a diferença é mínima: 219 contra 212.
A manobra é conhecida como gerrymandering: o redesenho de distritos eleitorais para concentrar votos de oposição em poucas regiões e, assim, garantir vitórias fáceis nas demais.
A reação foi imediata e extrema: o governador Greg Abbott, aliado de Donald Trump, ordenou a prisão civil dos parlamentares ausentes, algo raríssimo mesmo na política polarizada dos EUA. A sessão legislativa foi retomada sem quórum, o que rompe com regras básicas do processo legislativo.

Governadores democratas, como o de Illinois, ofereceram abrigo político aos que fugiram, ampliando ainda mais o impasse.
É mais do que uma disputa por votos. O episódio expõe o colapso de freios institucionais num dos maiores estados americanos. Quando governadores ameaçam prender opositores e rivais políticos buscam refúgio em outros estados, o alerta se impõe: até onde vai a democracia antes de virar fachada?
O que se vê hoje no Texas não é só um embate partidário. É um retrato de um país onde a radicalização trumpista está corroendo os limites do jogo democrático.