
A missão de senadores brasileiros em Washington enfrenta um panorama complexo em suas tentativas de reverter as tarifas de 50% que os Estados Unidos aplicarão aos produtos do Brasil a partir de sexta-feira (1º). Segundo o jornal Valor, fontes próximas à comitiva revelam que o presidente Donald Trump parece determinado a impor condições duras ao Brasil, seguindo um padrão semelhante ao adotado com outros líderes internacionais.
A comparação é que o republicano queira fazer com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o que fez com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky na Casa Branca em fevereiro deste ano. Na ocasião, Trump pressionou o convidado à aceitar um acordo pelo fim da guerra contra a Rússia que envolvesse a exploração de terras da Ucrânia pelos EUA.
“Você precisa ser mais grato, presidente, sem a nossa ajuda você não tem nenhuma carta. Será um acordo muito difícil, porque a atitude tem que mudar”, afirmou Donald Trump para Zelensky durante embate na Casa Branca. “Ele (Vladimir Putin) quer fazer um acordo e eu empoderei você… pic.twitter.com/q4fnou1rni
— GloboNews (@GloboNews) February 28, 2025
Durante o primeiro dia de negociações, os parlamentares brasileiros ouviram de representantes empresariais e jurídicos com acesso à Casa Branca que o governo estadunidense vê como “ponto irritante” nas relações bilaterais os processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Trump estaria convencido de que Lula poderia intervir nos casos se assim desejasse, o que é tecnicamente impossível no sistema jurídico brasileiro.
A proximidade do Brasil com a China também emerge como obstáculo significativo nas tratativas comerciais. Analistas sugerem que a postura de Washington reflete uma estratégia mais ampla de pressionar países a reduzirem laços econômicos com Pequim. “Trump precisará sair com a sensação de vitória para entrar em acordo com o Brasil”, relataram os senadores após reuniões com representantes de 20 empresas e escritórios de advocacia influentes.
Apesar do cenário preocupante, há avaliações de que os impactos econômicos podem ser gerenciáveis. Até mesmo a Embraer, considerada a empresa brasileira mais afetada pelas medidas, demonstra cautela sem chegar ao desespero, conforme declarou seu CEO Francisco Gomes Neto.
O governo brasileiro trabalha com a possibilidade de que as críticas internas na Europa ao recente acordo UE-EUA possam criar abertura para avanços nas negociações com o Mercosul.
Especialistas europeus consultados pela comitiva brasileira expressaram ceticismo sobre os benefícios do acordo comercial entre EUA e União Europeia. Julian Hinz, do Instituto de Economia Internacional de Kiel, argumentou que “países com ideias semelhantes deveriam ter-se unido numa coligação” para exercer maior influência sobre Washington.
No plano doméstico, o governo brasileiro avalia que a recente queda nos preços de commodities como café e carne pode ajudar a mitigar parte dos efeitos das tarifas. Há também a perspectiva de redirecionar exportações para outros mercados e adotar medidas de reciprocidade seletivas contra produtos estadunidenses.
O presidente Lula adotou nesta semana um tom mais conciliador, declarando: “Espero que o presidente dos EUA reflita a importância do Brasil e resolva fazer o que num mundo civilizado a gente faz: tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos resolver”.