
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou polêmica nesta segunda-feira (22) ao anunciar que a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA) alertaria médicos sobre um suposto risco aumentado de autismo em crianças associada ao uso de paracetamol (acetaminofeno) durante a gravidez. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca.
“Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom”, declarou Trump, acrescentando que autoridades de saúde recomendarão que grávidas evitem o medicamento, a menos que seja “estritamente necessário”. O paracetamol é um dos analgésicos e antitérmicos mais consumidos no mundo, utilizado para tratar dores e febre.
Pesquisadores refutam a associação
Pesquisadores, no entanto, afirmam que não existe evidência conclusiva de que o uso de paracetamol durante a gestação cause autismo. A farmacêutica Kenvue, responsável pela produção do Tylenol, declarou que “não há base científica” para a afirmação feita por Trump.
Além de suas declarações sobre o paracetamol, Trump defendeu a leucovorina — uma forma de ácido fólico indicada em alguns tratamentos contra o câncer — como possível terapia para sintomas de autismo. A FDA anunciou recentemente a aprovação de uma versão da leucovorina fabricada pela britânica GSK, que havia sido retirada do mercado por motivos comerciais anos atrás. O comunicado da agência menciona que a análise de dados de 40 pacientes com deficiência cerebral de folato (CFD) mostrou algumas melhorias em sintomas neurológicos semelhantes aos do autismo.
Evidências limitadas e necessidade de mais pesquisas
Estudos clínicos apontaram um potencial de melhora com leucovorina em sintomas relacionados ao autismo, mas a comunidade científica reforça que são necessárias pesquisas maiores e randomizadas para comprovar qualquer benefício real. Além disso, a utilização da leucovorina não está diretamente associada ao tratamento do autismo, mas sim à deficiência de folato, uma condição metabólica rara.

O que dizem os especialistas
O autismo é uma condição do desenvolvimento neurológico com causas predominantemente genéticas. Embora alguns estudos tenham sugerido uma possível associação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo, especialistas como o psiquiatra infantil da USP, Guilherme Polanczyk, alertam que não há relação de causa e efeito comprovada.
Pesquisas de larga escala, como um estudo sueco que analisou mais de 2 milhões de pessoas, não encontraram uma conexão significativa entre o uso do medicamento e o aumento do risco de autismo. As conclusões indicam que os sinais encontrados em estudos anteriores podem estar relacionados a fatores de confusão, como condições de saúde que motivaram o uso do paracetamol, e não ao efeito direto do medicamento.
Fatores ambientais e genéticos
Pesquisadores também apontam que fatores como idade avançada do pai, parto prematuro e condições de saúde da mãe durante a gravidez, como febre, infecções ou diabetes, podem aumentar o risco de autismo quando combinados com predisposição genética. Já a hipótese de que vacinas estão relacionadas ao autismo foi amplamente desmentida pela ciência.
Em resumo, médicos e cientistas alertam que, enquanto é importante monitorar os medicamentos durante a gravidez, não há base sólida para associar paracetamol ao autismo. A ciência continua a investigar as causas do autismo, com ênfase em fatores genéticos e ambientais.