
Prestes a completar oito meses no comando da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) enfrenta um cenário descrito por aliados como uma verdadeira “sinuca de bico”. Um correligionário próximo avaliou, sob anonimato, que o deputado se vê encurralado entre pressões do bolsonarismo, do próprio partido e do governo federal.
Motta foi eleito presidente da Casa em fevereiro com ampla maioria de 444 votos, em articulação conduzida por Arthur Lira. Essa base heterogênea, que uniu governistas e bolsonaristas, agora cobra posições distintas e frequentemente contraditórias, expondo o parlamentar a críticas de todos os lados.
Um dos exemplos mais recentes foi a condução da PEC da Blindagem e do projeto da anistia, apelidado de dosimetria. Motta precisou defender propostas que ele próprio classificou como “pautas tóxicas”, tornando-se alvo da opinião pública. Ao mesmo tempo, foi pressionado pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti, que impôs pautas de interesse do bolsonarismo.

No campo partidário, o Republicanos, liderado por Marcos Pereira, tem interesse em fortalecer Tarcísio de Freitas como presidenciável, o que coloca novas demandas sobre a mesa de Motta. Paralelamente, ele busca apoio do presidente Lula para garantir sua própria reeleição e viabilizar a candidatura do pai, Nabor Wanderley, ao Senado pela Paraíba.
Esse duplo alinhamento político, entretanto, minou a confiança do governo federal. Para tentar se aproximar novamente do Planalto, Motta pautou para a próxima semana a votação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, atendendo a uma demanda do Executivo.
Na avaliação do correligionário ouvido pela coluna O Globo, a situação do deputado é de vulnerabilidade extrema: “Quando parece que ele está vendo uma luz no fim do túnel, é um trem vindo”, resumiu o aliado, destacando a dificuldade do parlamentar em equilibrar interesses conflitantes.