POLÍTICA

Tarifaço pode ajudar Lula em 2026 ao reduzir inflação, diz economista

Lula, presidente do Brasil, e Donald Trump, dos EUA. Foto: reprodução

Em meio ao aumento das tarifas de importação impostas por Donald Trump ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode optar por não retaliar os Estados Unidos, de olho na estratégia eleitoral para 2026. A avaliação é do economista Samuel Pessôa, pesquisador do banco BTG Pactual e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

“Do ponto de vista puramente do cálculo eleitoral, Lula tem um incentivo a não retaliar, porque, se ele não retaliar, tem aí uma desinflaçãozinha a médio prazo”, afirmou Pessôa em entrevista à BBC News Brasil. Segundo ele, “embora a retaliação possa funcionar como instrumento de barganha, o país se encontra em uma posição delicada”.

A retaliação pode, eventualmente, ser um instrumento de barganha. Mas, se a gente se enxerga com pouco poder de barganha, do ponto de vista do interesse do bem estar brasileiro, é melhor não retaliar”, defendeu. Apesar das bravatas, Trump oficializou nesta quarta-feira (30) o “tarifaço” com o adiamento de uma semana e uma lista com quase 700 itens isentos da taxa, o que fez a medida virar piada nas redes sociais.

Mesmo com o tarifaço anunciado por Trump, Pessôa mantém uma leitura otimista sobre os próximos anos da economia brasileira. O economista acredita que o impacto das medidas protecionistas será limitado e que o cenário favorece a campanha de reeleição do petista.

Trump, presidente dos EUA anunciando o tarifaço. Foto: reprodução

“Continuo com o meu cenário, que é um cenário de ‘pouso suave’. A economia vai desacelerar — esse ano deve crescer uns 2%, ano que vem deve crescer 1,5%, uma desaceleração com relação aos 3% de crescimento no biênio anterior”, afirmou. “Mas essa é uma desaceleração que não chega a machucar muito o mercado de trabalho. E, com as boas safras, a inflação de alimentos está cedendo. Eu acredito que as tarifas de Trump não mudam esse cenário”.

A menção feita por Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA, sobre a possibilidade de zerar tarifas para produtos não cultivados em território americano, como café e manga, também não muda a análise de Pessôa. Para ele, trata-se de medidas pontuais, sem impacto estrutural na balança comercial ou na dinâmica dos preços internos.

Diante dos impactos localizados que o tarifaço possa causar em setores específicos da economia brasileira, Pessôa defende que o governo federal atue com crédito extraordinário, mesmo que isso implique um aumento temporário nas despesas públicas. O alerta, porém, é para que essa política não se transforme em gasto permanente.

“Tivemos recentemente o caso do Perse, programa desenhado para atender as empresas do setor de eventos, muito atingidas pela pandemia. Mas três anos depois do fim da pandemia, a gente estava discutindo no Congresso, até o ano passado, a manutenção do Perse. É uma coisa maluca”, disse.

Na entrevista, o economista também comentou o comportamento da União Europeia diante das pressões dos Estados Unidos. Segundo ele, “os europeus ajoelharam no milho”, indicando uma posição de submissão nas negociações com Trump.

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