POLÍTICA

Tarcísio desiste de projeto de IA para monitorar alunos em SP após reportagem do DCM

SADI, sistema de inteligência artificial do Instituto Anexo, monitorando sala de aula em escola de SP
Foto: Reprodução/YouTube

A Secretaria Estadual da Educação do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) avaliou o uso de um programa de inteligência artificial para monitorar o comportamento de alunos e professores dentro das salas de aula.

O projeto foi testado em 11 escolas da rede estadual, mas acabou descontinuado pela gestão após vir à tona em reportagem do DCM.

Segundo a apuração, o sistema usava câmeras para gravar estudantes e, por meio de IA, identificar sinais de ansiedade e traçar “perfis fortes” de cada aluno. A tecnologia, chamada Sistema de Avaliação de Desempenho Inteligente (SADI), é do Instituto de Tecnologia Anexo Brasil, de Goiás. Em vídeos institucionais, o CEO da empresa, Wister Alves, associava a ferramenta ao preparo dos jovens para o mercado de trabalho.

O governo Tarcísio confirmou que os testes ocorreram entre o fim de 2024 e meados de 2025, supostamente sem custos para o estado. De acordo com a pasta, a adesão das escolas foi voluntária e contou com anuência de professores. O DCM, porém, revelou que não havia garantias sobre como os dados coletados seriam tratados e que faltavam informações básicas sobre os critérios usados pelo sistema.

Após a denúncia, parlamentares do PSol e do PT ingressaram com representações no Ministério Público. Para os deputados Carlos Giannazi e Luciene Cavalcante, além do vereador Celso Giannazi (todos do PSol), o projeto piloto foi conduzido “na informalidade” e afronta a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A deputada Professora Bebel (PT), que preside a Apeoesp, também acionou o MPSP.

O órgão instaurou procedimento para investigar a legalidade do programa.

De acordo com o edital disponível no site da empresa, “o SADI aplica inteligência artificial para oferecer monitoramento comportamental avançado, análise de dados e feedback em tempo real”, através de uma “leitura biopsicossocial” sobre cada aluno. Até o fim deste ano, o grupo planejava fornecer o programa para toda a rede pública de ensino e vendê-lo à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

A denúncia — que o DCM trouxe com exclusividade — foi feita por um ex-auxiliar de uma das escolas participantes da iniciativa, a E.E. Deputado Augusto do Amaral, localizada no bairro do Jaguaré, Zona Oeste da capital paulista.

A reportagem procurou a SEDUC-SP, que afirmou tratar-se de um “projeto piloto, laboratorial, para analisar como os alunos reagem ao uso dessa plataforma”. A pasta preferiu não informar quais são os outros 10 colégios, mas ressaltou que nada foi formalizado contratualmente ainda e que a tecnologia “conta com a anuência dos professores, dos pais e da gestão escolar”.

A supervisão não se limitava aos alunos: os docentes também seriam cobrados com base nos resultados fornecidos pela IA. Segundo a fonte, a diretora repreendeu uma professora cujo “índice de engajamento” estava em 28%, exigindo que ela “corresse atrás para melhorar”.

DCM visitou a escola citada e obteve a confirmação, por parte da direção, de que as câmeras já estão instaladas nas salas de aula e que os pais dos alunos assinaram um contrato para permitir o uso da imagem dos filhos. A administração afirmou também que a escola foi procurada para a instalação do equipamento por membros da Diretoria de Ensino da Região Centro-Oeste (DECTO), vinculada à SEDUC-SP, e não pelo Instituto Anexo, que travaria contato direto apenas com a cúpula da pasta estadual.

 

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