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Sul Global deve escapar da armadilha de alinhamentos automáticos, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira (27) que os países do Sul Global devem “escapar da armadilha dos alinhamentos automáticos e das situações de dependência” para garantir autonomia e prosperidade compartilhada. A declaração foi feita durante a Cúpula da Ásia do Leste, realizada em Kuala Lumpur, capital da Malásia. 

Durante seu discurso, o presidente ressaltou que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) representa uma nova realidade geoeconômica e geopolítica global e elogiou a centralidade do bloco como fator de equilíbrio em um mundo em transformação. Lula destacou a recente adesão de Timor Leste à ASEAN e afirmou que o país é um “irmão do Brasil”.

“Somos países biodiversos, com culturas plurais, histórias entrelaçadas e desafios comuns. Partilhamos a convicção de que um mundo multipolar é mais propício à paz do que um planeta dividido por rivalidades estratégicas. Consideramos a cooperação um caminho mais promissor para a prosperidade do que a competição”, afirmou.

Lula enfatizou que a distância geográfica entre o Brasil e o Sudeste Asiático não é obstáculo para a construção de uma visão de mundo compartilhada. “A aproximação entre o Sudeste Asiático e o Brasil, de Leste a Oeste, é crucial para a defesa do multilateralismo”, disse o presidente.

Soberania e autonomia do Sul Global

O presidente reforçou a necessidade de respeito à soberania das nações e condenou violações ao direito internacional. “Os mares que nos circundam não podem se tornar palco de violações do direito internacional. Os minerais estratégicos que possuímos não devem enriquecer outras nações às custas do nosso desenvolvimento”, declarou.

Lula também destacou que “diversificar relações é sinônimo de autonomia” e defendeu a ampliação das parcerias entre a ASEAN e o Mercosul, com o objetivo de integrar cadeias produtivas de regiões que possuem “grande complementaridade econômica”.

Brics, G20 e uma governança global mais justa

O presidente ressaltou a sinergia entre a presidência da Malásia na ASEAN e as presidências brasileiras do G20 e do Brics, guiadas pelos princípios da inclusividade e da sustentabilidade. “O Brics, que tem a honra de contar com países da região entre seus membros e parceiros, é um veículo para uma governança global mais representativa e que não nasceu para afrontar ninguém”, afirmou.

Ele lembrou que o bloco alcançou posições comuns sobre temas como o tratamento multilateral da inteligência artificial, o financiamento climático e a eliminação de doenças socialmente determinadas. Lula também defendeu a reforma das instituições multilaterais e elogiou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) em preencher lacunas deixadas pelas instituições de Bretton Woods.

A COP da verdade

Ao abordar a crise climática, Lula reafirmou que a COP 30, que será realizada em Belém (PA) em novembro de 2025, será “a COP da verdade”. Segundo ele, o encontro deve servir como espaço para enfrentar o negacionismo climático. “Não é hora de abandonar o Acordo de Paris. Sem ele, perderemos nossa bússola. Cada grau adicional na temperatura média global representará perdas significativas no PIB mundial. Trata-se de milhões de pessoas que serão empurradas para a fome e a pobreza”, alertou.

O presidente defendeu a transição energética como uma oportunidade econômica, e anunciou duas iniciativas que o Brasil lançará: a Declaração para Quadruplicar o uso de Combustíveis Sustentáveis até 2035 e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que beneficiará nações das bacias do Bornéu-Mekong, do Congo e da Amazônia.

Parcerias e reconhecimento internacional

A visita de Lula à Malásia marcou a primeira viagem oficial de um chefe de Estado brasileiro ao país em 30 anos e resultou em sete instrumentos de cooperação nas áreas de tecnologia, ciência, semicondutores, inovação e agropecuária, além da abertura de seis novos mercados para produtos nacionais.

O presidente também recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia e Desenvolvimento Internacional e Sul Global concedido pela Universidade Nacional da Malásia (UKM), em reconhecimento à sua trajetória em prol da inclusão social e da cooperação internacional.

Além dos compromissos na Malásia, Lula se reuniu com os primeiros-ministros de Singapura e do Vietnã e participou de fóruns empresariais para ampliar o comércio com países asiáticos. Em Kuala Lumpur, o presidente também teve um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para discutir tarifas sobre exportações brasileiras, em uma conversa descrita como “franca e construtiva”.

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