
Por Leonardo Sakamoto
Esta sexta foi um dia histórico para a extrema direita patriótica (sic), pois Trump copiou Bolsonaro. Donald atacou quem calcula as estatísticas de emprego nos Estados Unidos porque elas lhe trouxeram más notícias, tal como fazia Jair quando era presidente.
Irritado com os números mensais do mercado de trabalho nos Estados Unidos (que vieram bem piores do que o esperado, com contratações fracas em julho e uma revisão para baixo do crescimento em maio e junho), ele afirmou, sem evidências, que os dados foram “manipulados” e demitiu Erika McEntarfer, a comissária do Escritório de Estatísticas Trabalhistas. Sua indicação havia sido aprovada por democratas e republicanos no ano passado.
A fraqueza no mercado de trabalho indica que as políticas erráticas e irresponsáveis de Trump começam a afetar negativamente a economia em um ponto que pode lhe custar o apoio de parte da classe trabalhadora, que deu a ele um voto de confiança após a decepção com os democratas.
O jornal The New York Times ouviu economistas, que disseram que isso corroeria ainda mais a confiança nos dados fornecidos pelo governo Trump e dificultaria a vida de investidores e empresas, que dependem de informações confiáveis para tomar decisões.
O Escritório de Estatísticas Trabalhistas afirmou, nesta sexta, que houve 73 mil novos empregos em julho, quando se esperava muito mais. E que, nos dois meses anteriores, foram gerados 258 mil postos a menos do que divulgado anteriormente.
Diante de um desemprego recorde no Brasil, Bolsonaro, sem pudor algum, atacava não as suas causas, mas o IBGE, que informa o tamanho do problema. É como se um médico, diante de uma febre, blasfemasse contra o termômetro ao invés de ministrar o remédio correto à doença.
Em novembro de 2018, logo após ser eleito, ele disse: “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa”.

Pressionou sistematicamente o instituto pelos anos seguintes, como em uma entrevista, em abril de 2021, à CNN: “Estamos criando empregos formais, e bastante, mês a mês, mas tem aumentado o desemprego por causa dessa metodologia do IBGE, que atendia ao governo da época. Esse tipo de metodologia, no meu entender é o tipo errado. Vou sofrer críticas do IBGE, mas eles podem mudar a metodologia”.
Para Bolsonaro, a metodologia do IBGE, que segue padrões internacionais, era errada porque não favorecia o seu discurso. E, portanto, precisava ser mudada. Tal como acusou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) de mentir sobre o desmatamento na Amazônia porque as imagens de satélite não corroboravam as mentiras que ele contava.
Governos autoritários, quando colocados contra a parede, reduzem a transparência de informações às quais a sociedade tem acesso a fim de adaptar a realidade à sua narrativa. Como a realidade não entrega a redução do desemprego no ritmo que Bolsonaro esperava, ele demonstrava a vontade de torturar os números até que gritassem o que ele queria ouvir.
Ele dizia, por exemplo, que era impossível o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) estar publicizando saldos positivos de contratações e o desemprego estar crescendo. Sua reclamação não procedia. A taxa de desocupação depende de uma série de variáveis. Por exemplo, a quantidade de pessoas que já estavam procurando emprego sem sucesso. Mas também o montante que estava fora da força de trabalho e volta a procurar emprego ou inicia agora a busca pelo primeiro emprego.
Quem não está procurando emprego não é considerado desempregado pela metodologia da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, do IBGE, que segue padrão internacional. Desempregado é quem está tentando encontrar emprego e não consegue. Pessoas que voltam a procurar serviço retornam à fila do desemprego se não encontram.
Bolsonaro copiou Trump em termos de práticas golpistas. Após perder a eleição em 2020, Trump incitou seus seguidores a invadir o Congresso norte-americano, em 6 de janeiro de 2021, em uma tentativa de permanecer no poder. Após perder a eleição em 2022, Bolsonaro incitou seus seguidores a invadir o Congresso brasileiro (e o Planalto e o STF), em 8 de janeiro de 2023, em uma tentativa de permanecer no poder.
Hoje, o aluno deve estar orgulhoso de ter sido copiado pelo seu professor.
Publicado originalmente no Uol