POLÍTICA

Sakamoto: Com controle total de Gaza, Netanyahu assume que plano é limpeza étnica

Mãe abraça criança gravemente desnutrida, evidenciando o impacto da crise humanitária em Gaza – Foto: Reuters

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Primeiro vieram as bombas e os mísseis. Depois, os fuzis. Aí, aprofundaram a morte de crianças por fome e a execução de pessoas na fila da comida. Como nada disso levou os palestinos a pedirem para deixar sua própria terra, o governo Benjamin Netanyahu se prepara para a ocupação total do território, a começar com o controle da Cidade de Gaza.

Com isso, um cessar-fogo com o Hamas fica mais distante do que nunca, o que coloca em risco a vida de dezenas de reféns que o grupo sequestrou de Israel no seu ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que também deixou 1.139 mortos. Em resposta, o governo Netanyahu vem cometendo crimes contra a humanidade em Gaza, com a morte de 61.258 e o desaparecimento de outros milhares.

O plano de tomada prevê o deslocamento de palestinos que ainda estão em suas casas para campos de refugiados, onde possam ser vigiados de perto pelos militares israelenses. Só na Cidade de Gaza são 800 mil pessoas, o equivalente a São Bernardo do Campo (SP) ou Duque de Caxias (RJ). E, com isso, vão espremendo ainda mais os 2 milhões de habitantes do território. Isso significa piorar a já péssima situação da população, que também sofre de doenças como cólera.

O plano diz que vai levar ajuda humanitária – que, se for tão tosca quanto aquela que vem sendo garantida hoje, com o apoio dos Estados Unidos, podemos esperar mais cadáveres.

Não há paz com a possibilidade de Hamas continuar mandando no território, mas tampouco com Netanyahu e seus asseclas seguirem governando Israel.

O primeiro-ministro não tem pressa, ao contrário das famílias dos reféns e da população de Gaza. Não quer ameaças à coalização que mantém seu governo de pé, com a presença de políticos ultraconservadores que defendem abertamente a limpeza étnica no território, com a expulsão dos palestinos para o Egito, a Jordânia ou mesmo o Mar Mediterrâneo.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu – Foto: Reprodução

Preocupado com as próximas eleições, ele vai empilhando crimes de guerra. Sabe que, quando deixar o poder, terá que enfrentar acusações de corrupção e de ataques à Justiça do seu próprio país, que podem levá-lo à cadeia.

Enquanto isso, Donald Trump até reconhece a fome em Gaza, mas mantém apoio a Netanyahu enquanto pune os membros do Tribunal Penal Internacional que questionam o genocídio em curso. E dá sinal verde para a nova fase da limpeza.

Ele vem enfrentando a resistência aberta do chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, que discorda da eficácia da ocupação de Gaza. Em Tel Aviv, a população reclama de uma guerra sem rumo, que vai se normalizando e fazendo parte do cotidiano, e é recebida com jatos de água da política. Aliados, como Reino Unido, França ou Alemanha, se enfurecem com Israel, e cortam a ajuda militar ou ameaçam reconhecer a Palestina como Estado. Outros países, como o Brasil, se reúnem para denunciar.

Considerando o ritmo e a intensidade das pressões, eles vão provocar efeito quando as colônias israelenses em Gaza estiverem prontas e os palestinos que restarem se estapearem por pão em favelas nos países vizinhos.

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