
O arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, de 62 anos, morreu na queda de um avião de pequeno porte na noite de terça-feira (23) em Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Conhecido mundialmente como o pai do conceito das chamadas “cidades-esponja”, ele estava no Brasil após participar da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e da Conferência Internacional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), em Brasília.
Natural da vila de Dongyu, na província de Zhejiang, na China, Kongjian Yu nasceu em 1963 em uma família de agricultores. Formou-se na Universidade Florestal de Beijing e fez doutorado em Harvard, nos Estados Unidos. Em 1998, fundou o escritório Turenscape, hoje um dos maiores do mundo, com projetos implementados em mais de 70 cidades. Também era professor da Universidade de Pequim e autor de mais de 20 livros e 300 artigos científicos.
Yu ganhou notoriedade internacional ao desenvolver o conceito de “cidades-esponja”, modelo de planejamento urbano que propõe o uso de áreas verdes e soluções baseadas na natureza para absorver e reutilizar a água da chuva. A ideia surgiu como resposta às enchentes de Pequim em 2012, que deixaram quase 80 mortos.
Enquanto a cidade moderna sofreu graves alagamentos, a Cidade Proibida, construída séculos antes com um avançado sistema de drenagem natural, permaneceu intacta. A partir desse contraste, Yu defendeu que as cidades precisam aprender a conviver com a água, não a combatê-la.
O conceito foi adotado oficialmente pela China em 2015 e se tornou referência mundial. Mais de 250 cidades no país já aplicam a metodologia, que vem sendo estudada em locais afetados por enchentes severas, como o Rio Grande do Sul em 2024. Em entrevista à imprensa brasileira, Yu destacou que “a enchente não é inimiga”, defendendo a restauração da natureza como solução mais eficaz do que obras de concreto.

A proposta de Yu chamou atenção no Brasil. Durante sua participação na Bienal de Arquitetura, no último dia 19, ele afirmou que via no país “a última esperança para salvar o planeta”, destacando a riqueza ambiental do território brasileiro. Em visita ao Rio de Janeiro, sugeriu intervenções urbanas na Avenida Francisco Bicalho para ampliar a permeabilidade do solo e reduzir alagamentos.
Ao longo da carreira, recebeu prêmios internacionais, como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e o RAIC International Prize (2025). Também era editor-chefe da revista Landscape Architecture Frontiers e recebeu doutorados honorários de universidades da Itália e da Noruega.
No Pantanal, Yu acompanhava o cineasta Luiz Ferraz nas gravações de um documentário sobre as cidades-esponja. O avião Cessna, prefixo PT-BAN, caiu ao lado da pista da Fazenda Barra Mansa, conhecida por receber turistas brasileiros e estrangeiros.
Seus trabalhos defendiam que cidades que dependem menos de obras de concreto e mais de soluções ecológicas, capazes de absorver, limpar e reutilizar a água. Em seus últimos artigos, ele já falava em ampliar o conceito para “bacias hidrográficas-esponja” e até para um “planeta-esponja”, visão que conecta a luta contra enchentes às mudanças climáticas globais.