
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira a Operação Unha e Carne 2, que resultou na prisão do desembargador federal Macário Júdice Neto, integrante do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A investigação apura o suposto repasse de informações sigilosas a membros da facção criminosa Comando Vermelho, em um esquema que também envolve figuras proeminentes do Judiciário e da política do Rio de Janeiro.
Macário Júdice Neto é o relator de um processo que tramita na corte e que envolve o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias. Este último é apontado pelas autoridades como um aliado direto da facção criminosa, indicando uma possível conexão direta entre o magistrado e os interesses da organização criminosa.
Segundo as investigações da Polícia Federal, o desembargador teria agido para beneficiar os interesses do grupo criminoso. Essa atuação motivou a nova fase da operação, que ocorre meses após a prisão de Rodrigo Bacellar, então presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que também é investigado no mesmo esquema de vazamento de informações. Conforme informação divulgada pelo Brasil 247, a defesa do desembargador Macário Judice registrou que o Ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a prisão, e que a defesa apresentará os devidos esclarecimentos e solicitará a soltura imediata.
Histórico de afastamentos e acusações marca a carreira do magistrado
A trajetória de Macário Júdice Neto na magistratura é marcada por um longo período de afastamentos e intensas disputas judiciais. Ele foi reintegrado ao Judiciário e promovido a desembargador em 2023, após ficar 17 anos longe de suas funções. Desde 2005, o juiz enfrentava decisões que o mantinham fora do cargo, em decorrência de acusações de **venda de sentenças** quando atuava na Justiça Federal do Espírito Santo.
O primeiro afastamento foi determinado pelo próprio TRF-2 em novembro de 2005. Na época, a investigação apurava sua suposta participação em um esquema associado à chamada **máfia dos caça-níqueis**. Embora Macário tenha sido absolvido nesse processo em 2015, ele permaneceu afastado devido a um processo administrativo disciplinar (PAD) que tratava dos mesmos fatos.

Decisões do CNJ e o retorno ao cargo de desembargador
O processo administrativo disciplinar se arrastou por anos, com sucessivos recursos e batalhas jurídicas, até chegar ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em novembro de 2022, o órgão decidiu que o prazo para o julgamento havia expirado e determinou a reintegração do magistrado. No entanto, ainda pesava contra ele uma decisão de afastamento por improbidade administrativa, que havia sido proferida pelo próprio TRF-2.
Macário Júdice Neto foi nomeado desembargador federal em maio de 2023. A indicação formal foi enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o magistrado era o primeiro da lista de antiguidade. A posse aconteceu em uma solenidade realizada no gabinete da Presidência do TRF-2, marcando seu retorno oficial ao Judiciário.
CNJ já havia suspendido pena de aposentadoria compulsória em 2015
Em dezembro de 2015, o CNJ suspendeu uma decisão do TRF-2 que havia aplicado a pena de aposentadoria compulsória a Macário. Na ocasião, o conselheiro Arnaldo Hossepian considerou que a deliberação não respeitou o quórum exigido pela Constituição. Essa decisão permitiu que o magistrado permanecesse no quadro da magistratura, apesar das acusações de venda de decisões judiciais, processo que nunca transitou em julgado.
Vínculo institucional da esposa com a Alerj também é investigado
Um ponto que ganhou destaque com a deflagração da Operação Unha e Carne 2 é o vínculo institucional da esposa do desembargador, Flávia Júdice. Ela atuava até o mês passado no gabinete da diretoria-geral da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Esse período coincide com o avanço das investigações contra TH Joias e Rodrigo Bacellar, levantando suspeitas sobre possíveis conexões e influências.



