
Portland voltou ao centro do discurso de Donald Trump. No sábado (27), o presidente dos EUA anunciou que ordenou ao secretário de Defesa, Pete Hegseth, o envio de tropas para a cidade, afirmando que instalações do ICE estavam “sob ataque de Antifa e outros terroristas domésticos”. Trump foi além: disse ter autorizado o uso de “força total, se necessário” em solo americano.
O símbolo de 2020
A fixação de Trump por Portland remonta ao verão de 2020, quando protestos contra a violência policial se prolongaram por mais de 170 dias. Embora a maioria fosse pacífica, houve saques, incêndios e confrontos, e para muitos conservadores a cidade tornou-se o retrato do caos. Trump enviou mais de 750 agentes federais sem autorização local e, desde então, passou a usar Portland como exemplo recorrente de “lei e ordem”.
“Olhem para Portland. Essas pessoas são loucas, estão tentando incendiar prédios”, disse o presidente na Casa Branca na quinta-feira.
Mais política que segurança
Apesar de ter índices de homicídio menores que cidades como Memphis ou Chicago, Portland é vista pela Casa Branca como um “ponto analítico útil”: uma cidade governada por democratas, com status de santuário, que se tornou palco de protestos contra o ICE. Para aliados de Trump, isso a torna ideal para reforçar sua campanha contra imigração, criminalidade e “violência da esquerda radical”.
Tensões locais
Os protestos atuais, muito menores que os de 2020, concentram-se no escritório local do ICE. Durante o dia, as manifestações têm caráter pacífico, muitas vezes lideradas por religiosos. À noite, grupos menores entram em choque com agentes federais. A polícia já prendeu manifestantes por agressões e incêndio, mas não houve mortes em 2025.
Autoridades democratas em Oregon rejeitam a medida. A governadora Tina Kotek classificou a ameaça de enviar tropas como “absurda, ilegal e antidemocrática”. Já o senador Jeff Merkley (D-OR) acusou Trump de querer “provocar o caos para justificar mais autoritarismo” e pediu aos manifestantes que “não caiam na armadilha”.
O contexto maior
O anúncio sobre Portland ocorre em meio a uma ofensiva mais ampla de Trump contra a esquerda após o assassinato do ativista de extrema-direita Charlie Kirk. O presidente declarou o movimento antifa como “organização terrorista doméstica” e assinou ordens executivas para investigar “violência política organizada” — medidas que juristas consideram juridicamente frágeis e com risco de cercear a liberdade de expressão.
Enquanto Trump descreve Portland como “zona de guerra”, moradores e ativistas locais tentam reagir à narrativa, publicando imagens de ruas tranquilas e feiras gastronômicas. “O governo está usando o medo para dividir as pessoas”, disse Reyna Lopez, dirigente sindical de trabalhadores rurais.
Taken just a few minutes ago outside the ICE facility in Portland that Trump claims is under siege. My message to Donald Trump is this: we don’t need you here. Stay the hell out of our city. pic.twitter.com/XV3NCir20G
— Ron Wyden (@RonWyden) September 27, 2025
Armored DHS trucks arrived at the federal building in Downtown Portland ahead of the Trump administration’s directive to take down Antifa, with authorization to use “full force” if necessary. This was yesterday. Wonder what today will bring.
pic.twitter.com/SOWAWv1ijD— Ian Miles Cheong (@stillgray) September 27, 2025