POLÍTICA

PMs de SP denunciam imposição de cultos da Universal e perseguição por recusa

Encontro em Santos no final de 2024: Universal diz respeitar a Constituição. Foto: divulgação/UFP.

Policiais militares de São Paulo denunciam a obrigatoriedade velada de comparecimento a cultos religiosos da Igreja Universal do Reino de Deus dentro da corporação. O cabo Marco Aurélio Bellorio, católico, recusou-se a participar de uma reunião no templo da Universal após um turno de 13 horas de serviço. Por isso, sofreu perseguição interna, respondeu a processo disciplinar e entrou com ação na Justiça por danos morais, que foi rejeitada. Agora, cinco anos depois do episódio, o processo contra ele foi reaberto.

Segundo Bellorio, ele foi punido por não aceitar “ficar ouvindo pastor” e afirma que vive num estado laico, com liberdade religiosa. Outros policiais relatam situações semelhantes. O soldado Marcelo, ateu, diz que se ausenta quando pastores aparecem no batalhão. Ele afirma sofrer retaliações por não aceitar participar das reuniões religiosas e critica a presença constante de líderes da Universal nas instalações da PM.

Os encontros são organizados pela Universal nas Forças Policiais (UFP), projeto criado em 2018. Os eventos envolvem pregações, orações e falas de comandantes, muitas vezes em horário de expediente e com a tropa fardada. Em fevereiro deste ano, 2.500 PMs participaram de uma reunião de 12 horas no templo do Brás, em São Paulo, para definição de vagas de trabalho. A Universal afirma que presta “assistência espiritual e social”, mas não respondeu aos questionamentos sobre doutrinação.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo nega vínculos formais com igrejas e diz que os espaços religiosos são apenas cedidos. No entanto, ex-policiais e especialistas criticam a prática e afirmam que há violação da laicidade do Estado. Segundo o ex-PM Leandro Prior, esses eventos têm caráter doutrinário e focam policiais emocionalmente fragilizados, muitos com histórico de depressão ou uso de psicotrópicos.

Encontro com 2,5 mil policiais durou mais de 12 horas na sede da Universal em SP: Foto: divulgação/UFP.

A imposição de presença nesses cultos religiosos também gerou reações no Ministério Público. No Distrito Federal, foi aberto inquérito contra um comandante que obrigou a tropa a comparecer a um evento na sede da Universal. Em São Paulo, o deputado Paulo Reis (PT) pediu providências ao MP, mas o caso foi arquivado. Para o cientista político Guaracy Mingardi, qualquer obrigatoriedade nesse sentido é inconstitucional e deve ser punida.

Atualmente, a Universal afirma ter 20 mil capelães atuando no país, número próximo ao total de padres católicos em atividade. O projeto se expandiu para outras forças, como Exército, Polícia Civil e Aeronáutica, e pode estar sendo replicado por outras denominações evangélicas, como a Assembleia de Deus. Em um caso extremo, um PM morreu em acidente após ser forçado a comparecer a uma dessas reuniões sem ter descansado do turno anterior. As informações são do The Intercept.

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