
A cada nova eleição, a família Bolsonaro reforça a ideia de que enxerga o Brasil como um imenso curral eleitoral, onde qualquer território pode ser explorado politicamente conforme a conveniência do clã.
A mais recente manobra em discussão é a possível candidatura de Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao Senado por São Paulo.
Ele substituiria o sobrinho Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos e deve abrir mão da disputa, apesar de ser até então o favorito do PL.
A tentativa de emplacar mais um membro da família no estado paulista segue o mesmo padrão de oportunismo que marcou o histórico do grupo. Eduardo Bolsonaro é deputado federal por São Paulo desde 2015, mesmo nunca tendo estabelecido residência fixa no estado.
Agora, com o herdeiro ideológico em baixa e envolvido em investigações por sua atuação em articulações contra instituições brasileiras no exterior, cogita-se empurrar outro Bolsonaro na linha de sucessão, como se os eleitores fossem obrigados a aceitar qualquer nome imposto.
Não é a primeira vez que os planos do clã esbarram no ridículo.
Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, chegou a ser sondado para uma candidatura federal por Santa Catarina. A ideia, considerada constrangedora até mesmo nos bastidores do PL, foi abandonada diante da repercussão negativa e da completa falta de vínculo do vereador com o estado do sul do país. Agora, o roteiro se repete, mas com outro irmão e em um território já explorado eleitoralmente.
O projeto de lançar Renato Bolsonaro ao Senado ainda está em aberto.
Oficialmente, ele disputaria vaga na Câmara dos Deputados, mas seu nome pode ser alçado ao Senado em uma composição com o secretário da Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite (PP).
Também há, nos bastidores, quem defenda reservar a vaga de Eduardo para um nome de centro-direita com mais densidade eleitoral, como o ex-governador Rodrigo Garcia, hoje sem partido.
A recorrente tentativa da família Bolsonaro de disputar cargos estratégicos em estados que servem apenas como trampolim eleitoral reforça um modus operandi marcado por desprezo a vínculos regionais e apego ao poder pelo poder. Para o grupo, o Brasil parece ser apenas uma coleção de palanques — e os eleitores, massa de manobra.