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Os cortes de Trump que ameaçam organizações humanitárias no Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

Cortes impostos pelo governo Donald Trump colocam em risco o funcionamento de organizações humanitárias no Brasil a partir de 2026 e já ameaçam provocar o fechamento de projetos essenciais. A Cáritas-RJ, referência no atendimento a refugiados há quase 50 anos, afirma viver sua pior crise, diretamente ligada ao fim do apoio financeiro vindo dos Estados Unidos. Com informações do G1.

“Nunca vivemos nada parecido na história da Cáritas”, diz Aline Thuller, coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas-RJ. Com os cortes norte-americanos, a entidade perdeu recursos fundamentais e hoje não consegue garantir nem os salários de sua equipe.

A Cáritas recebia apoio do Acnur e de pequenos financiadores há mais de quatro décadas. Embora os repasses de 2025 estivessem negociados, a organização foi informada em fevereiro que os cortes da nova gestão Trump valeriam imediatamente.

Serviços interrompidos e demissões

A falta de recursos forçou o fim de um auxílio emergencial destinado a imigrantes recém-chegados, usado para alimentação, cuidados médicos e aluguel. Houve atraso no início do curso gratuito de português, e parte dos funcionários precisou ser desligada.

Pablo Mattos, oficial de Relações Governamentais do Acnur Brasil, explica que a agência da ONU também sofreu redução de quase 25% do orçamento global — consequência direta dos cortes dos EUA e de países europeus.

“Estamos diminuindo o número de pessoal do Acnur no Brasil, incluindo Roraima, e não conseguiremos apoiar cerca de 270 mil pessoas no Brasil que precisariam de ajuda”, afirma.

Mattos lembra que a última vez em que o Acnur trabalhou com um orçamento inferior a US$ 4 bilhões foi há cerca de dez anos, quando o total de pessoas deslocadas era metade dos atuais 120 milhões.

O contraste é ainda mais evidente para a Cáritas, que só neste ano atendeu refugiados de mais de 78 nacionalidades.

“O trabalho como o nosso está em risco de fechar, não porque a gente não é mais necessário, muito pelo contrário. Mas é porque a gente está vivendo uma crise, que é uma crise de responsabilidade”, diz Aline. “O impacto é considerável e bastante negativo. Eu diria até que devastador”, afirma Mattos.

Outros projetos no Brasil também ameaçados

A Casa 1, centro cultural e de acolhida LGBTQIA+ criado em 2017 em São Paulo, anunciou que fechará em abril de 2026 por falta de financiamento.

O diretor institucional, Iran Giusti, afirma que projetos de diversidade já enfrentavam dificuldades e que o governo Trump agravou a situação: “Trump, já no primeiro dia de mandato, faz um pronunciamento antidiversidade e a primeira reação é a suspensão dos fundos internacionais vindos especialmente dos EUA”.

Giusti relata que, além da perda de recursos, a Casa 1 enfrenta ataques constantes nas redes sociais enquanto tenta manter o atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade: “Eu acho que o dia seguinte depois do encerramento será um vazio. A gente é uma trincheira de uma guerra que está muito longe de acabar.”

Por que os cortes aconteceram

Ao assumir o poder, Donald Trump colocou Elon Musk à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), com a missão de cortar gastos públicos. Um dos principais alvos foi a USAid, responsável por cerca de 40% do financiamento global a programas humanitários.

Com o fim dos contratos da agência em 2025, o órgão praticamente deixou de existir. A redução norte-americana desencadeou cortes também na França, Reino Unido e Alemanha, que redirecionaram recursos para gastos militares, especialmente em apoio à Ucrânia.

Elon Musk ameaça parlamentares a favor do projeto de Trump - 01/07/2025 - Mercado - Folha
O bilionário Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington. Foto: Nathan Howard

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