POLÍTICA

O que o governo Lula pensa sobre telefonema a Trump antes do tarifaço

Lula, presidente do Brasil. Foto: Ricardo Stuckert

O governo brasileiro debate internamente a possibilidade de um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao líder estadunidense, Donald Trump, para discutir as tarifas de 50% que serão impostas aos produtos brasileiros a partir desta sexta-feira (1º). A conversa, no entanto, enfrenta resistências entre os aliados do Planalto devido ao comportamento imprevisível do presidente dos Estados Unidos.

“Essa conversa só poderia ocorrer se houvesse garantia de que Lula não seria desrespeitado”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacando o principal receio do governo brasileiro.

Segundo Lauro Jardim, do jornal O Globo, fontes próximas ao presidente revelam que o consenso entre seus auxiliares é de que Lula não fará a ligação, pelo menos não antes do dia 1º de agosto. “Inclusive porque Trump não a quer”, completou um assessor presidencial.

Trump, presidente dos EUA anunciando o tarifaço. Foto: reprodução

Comitiva brasileira enfrenta cenário complexo em Washington

Enquanto isso, a missão de senadores brasileiros na capital estadunidense encontra dificuldades em suas tentativas de reverter as tarifas. Segundo informações do jornal Valor, Trump parece determinado a impor condições duras ao Brasil, seguindo um padrão semelhante ao adotado com outros líderes internacionais.

Fontes próximas à comitiva relatam que o governo estadunidense vê como “ponto irritante” nas relações bilaterais os processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Trump estaria convencido de que Lula poderia intervir nos casos – uma interpretação que ignora a independência do Poder Judiciário no Brasil.

A proximidade do Brasil com a China também emerge como obstáculo significativo. Analistas sugerem que a postura de Washington reflete uma estratégia de pressionar países a reduzirem laços econômicos com Pequim. “Trump precisará sair com a sensação de vitória para entrar em acordo com o Brasil”, relataram os senadores após reuniões com representantes de empresas e escritórios de advocacia influentes.

Apesar do cenário preocupante, há avaliações de que os impactos podem ser gerenciáveis. Até mesmo a Embraer, considerada a empresa brasileira mais afetada, demonstra cautela sem chegar ao desespero, conforme declarou seu CEO Francisco Gomes Neto.

O governo brasileiro trabalha com duas frentes de ação:
1. Aproveitar as críticas internas na Europa ao recente acordo UE-EUA para avançar nas negociações com o Mercosul
2. Redirecionar exportações para outros mercados e adotar medidas de reciprocidade seletivas

Especialistas europeus consultados pela comitiva expressaram ceticismo sobre os benefícios do acordo comercial entre EUA e União Europeia. Julian Hinz, do Instituto de Economia Internacional de Kiel, argumentou que “países com ideias semelhantes deveriam ter-se unido numa coligação” para exercer maior influência.

Em meio às tensões, o presidente brasileiro adotou um tom mais conciliador: “Espero que o presidente dos EUA reflita a importância do Brasil e resolva fazer o que num mundo civilizado a gente faz: tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos resolver”.

 

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