POLÍTICA

Mensagens revelam como PCC fraudava combustíveis e lavava dinheiro na Faria Lima

Posto de combustíveis usado por quadrilha ligada ao PCC – Foto: Reprodução

Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) detalham como uma quadrilha ligada ao PCC fraudava combustíveis e se antecipava a fiscalizações.

Os diálogos, divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, mostram que os criminosos eram avisados sobre operações antes de acontecerem e paravam suas atividades para não serem flagrados. “Já tudo parado, né? Que a gente sabia que ia começar”, escreveu Thiago Augusto de Carvalho Gomes, um dos presos. Em outra mensagem, ele afirmou: “Pistola na cintura e diesel, pai!”.

O esquema começava no Porto de Paranaguá (PR), usado para importar de forma clandestina metanol e nafta. Esses produtos químicos, destinados a indústrias, eram desviados para adulterar gasolina e etanol. Em conversa com Rafael Renard Gineste, empresário preso na operação, Thiago questionou: “Não dá pra fazer algo nessa gasolina pra render mais? E baixar o custo dela? Etanol, sei que podemos jogar um ‘m’”. A sigla, segundo a PF, se referia ao metanol.

A estrutura também incluía usinas de etanol no interior paulista. Pelo menos cinco foram compradas pelo grupo, algumas delas endividadas. Além de garantir combustível para a rede criminosa, essas usinas serviam para lavar dinheiro, chegando a pagar até 43% acima da média pela cana-de-açúcar.

O passo seguinte foi montar distribuidoras próprias, como a Duvale, em Jardinópolis (SP). Sem faturamento até 2019, a empresa saltou para quase R$ 2,8 bilhões em 2021, tornando-se a maior destinatária do etanol produzido nas usinas. O transporte era feito pela G8Log, de Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, que usava caminhões para entregar combustível adulterado em todo o país.

O grupo chegou a controlar cerca de 1,2 mil postos de combustíveis, onde a ANP encontrou adulterações graves. Em alguns casos, a gasolina tinha até 50% de metanol e o etanol até 90%. Para movimentar os lucros, os criminosos usavam fintechs, como a BK Instituição de Pagamento, que transferiu R$ 46 bilhões em cinco anos em contas chamadas “bolsão”, criadas para dificultar o rastreamento.

Na etapa final, os recursos eram aplicados no coração financeiro de São Paulo. Na Avenida Faria Lima, administradoras de fundos de investimento transformavam o dinheiro ilegal em patrimônio formalizado. A PF identificou 42 fundos controlados pela quadrilha, somando R$ 30 bilhões já bloqueados pela Justiça.

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