
Nos bastidores de Brasília, aliados de Jair Bolsonaro têm chamado os últimos dias de “semana-bomba”. A expressão reflete a sequência de acontecimentos que deixou os bolsonaristas em situação delicada. A aprovação da urgência da anistia, na quarta (17), parecia uma vitória, mas logo se transformou em um pesadelo político diante da reação popular.
Segundo a coluna de Bela Megale no jornal O Globo, a pressão interna recaiu sobre os líderes do PL: Sóstenes Cavalcante (SP) e Zucco (RS), na Câmara, e Rogério Marinho (RN), no Senado. Eles foram responsabilizados por colocar lado a lado duas pautas de alto desgaste.
Dentro do próprio campo bolsonarista, a estratégia passou a ser vista como um erro político grave, capaz de enfraquecer ainda mais o grupo. No domingo (21), manifestações contra a PEC da Blindagem e a anistia ao ex-presidente e aos condenados do 8 de janeiro ganharam força em todo o país.
O tamanho dos atos surpreendeu até lideranças de direita, superando inclusive mobilizações recentes como o 7 de setembro na Avenida Paulista. O resultado foi uma onda de críticas à associação da anistia com a blindagem parlamentar.

Outro episódio que contribuiu para a turbulência foi a tentativa frustrada de blindar Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que havia sido nomeado líder do partido na Câmara para evitar que suas ausências pesassem no processo que pode levar à cassação. Mas o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), vetou a manobra.
O desgaste aumentou quando o Conselho de Ética abriu processo que pode cassar o mandato de Eduardo e a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado por coação, apontando que ele teria atuado nos Estados Unidos para estimular sanções contra autoridades brasileiras com o objetivo de interferir no julgamento de Bolsonaro.
O golpe final da semana veio de fora do Brasil. Durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Donald Trump elogiou Lula e afirmou ter tido uma “ótima química” com o presidente brasileiro. A declaração contrariou a expectativa bolsonarista de manter exclusividade no diálogo com o estadunidense.
“Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto. Nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal”, disse Trump em seu discurso.