O deputado Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, afirmou que forneceu às autoridades italianas o endereço onde a deputada brasileira Carla Zambelli (PL-SP) estava em Roma, resultando na prisão dela na capital italiana.
Bonelli já havia pressionado o governo italiano para que revogasse a cidadania italiana de Zambelli e cooperasse com a extradição, afirmando que “Zambelli não é intocável por ter cidadania italiana” e que a Itália não deve ser “paraíso de criminosos ou golpistas”. Ele também protocolou interpelações formais nos ministérios italianos da Justiça, Interior e Relações Exteriores, questionando medidas de cooperação legal com o Brasil.
Em entrevista ao DCM, o deputado italiano revelou que o líder da extrema-direita no governo italiano pretende visitar Zambelli na prisão e que uma batalha política pode começar.
A PRISÃO DE ZAMBELLI
O que falo é o que ocorreu de fato: ontem, por volta das 18h40, recebi uma informação sobre o endereço onde Carla Zambelli estava em Roma. Antes de ligar para a polícia, fiz uma verificação e, às 19h50, liguei para o chefe da polícia de Roma e passei o endereço. Então, às 21h, a polícia foi até lá, localizou e identificou a deputada. Não é verdade que Carla Zambelli procurou a polícia para se entregar; foi a polícia que chegou à casa dela.
A primeira pergunta que estão me fazendo é: “Por que você está intrigado com o caso de Carla Zambelli?”
Vou falar claramente: a primeira coisa é que, quando vi a entrevista da Carla Zambelli, no dia 13 de junho, para a CNN Brasil, em que ela dizia: “Eu tenho cidadania italiana e ninguém pode fazer nada comigo. Eu sou intocável”, eu fiquei indignado, porque, em qualquer país democrático, ninguém é intocável. Ninguém.
Por isso, representei duas interpelações parlamentares, perguntando o que estava acontecendo e onde estaria Carla Zambelli em território italiano.
O Ministério do Interior me informou que ela entrou na Itália no dia 5 de junho e que não poderia ficar presa porque a nota vermelha da Interpol chegou no mesmo dia, porém quatro horas mais tarde. Ela chegou à Itália acompanhada do marido, Antônio Aginaldo de Oliveira.
Tenho um dever cívico em relação a isso. Preciso separar a questão política da questão criminal e verificar tudo pelo viés do poder judiciário.
Recebi a informação de que amanhã de manhã o tribunal italiano vai decidir sobre a prisão da deputada e se, a partir disso, inicia (ou não) o processo de extradição.
LÍDER DA EXTREMA-DIREITA ITALIANA QUER AJUDAR ZAMBELLI
Hoje, mais cedo, o líder da extrema-direita, Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro, afirmou que deve ir à prisão visitá-la. Penso que há um entendimento estratégico da extrema-direita italiana em torno desse caso político.
O Salvini tem essa ideia, mas eu não estou na cabeça dele para saber se ele vai levar isso adiante. Importante dizer: na Itália, como no Brasil, o poder judiciário é separado do poder político — e a isso chamamos democracia. Vamos ver o que vai acontecer.
Agora, uma questão que considero muito importante deixar clara é que o governo italiano e o judiciário brasileiro sabem onde está Carla Zambelli.
Eu não sei para onde Zambelli foi encaminhada. Sou deputado, não tenho prerrogativas policiais, então meu trabalho se encerrou no momento em que indiquei o endereço às forças policiais. Pelo que entendi da declaração de Salvini hoje, é que, se ele pretende ir à cadeia visitá-la, é porque ela já está em cárcere.
BONELLI ESTÁ SENDO AMEAÇADO DE MORTE
Estou sendo ameaçado e recebendo muitas ameaças de morte. Você pode verificar minhas redes sociais: há muitos comentários positivos, mas também há alguns muito, muito violentos — e vou denunciar tudo isso. Há muitos radicais brasileiros e muitos radicais italianos me atacando.
O VIÉS POLÍTICO DA PRISÃO DE ZAMBELLI
Ainda não há um enfrentamento político da extrema-direita italiana contra mim por conta do caso Zambelli, pois a questão está começando agora na Itália. Mas acho que a declaração de Matteo Salvini hoje é uma declaração de guerra política.
Acredito que há, sim, uma estratégia internacional para se blindar, para construir uma supremacia que não passa pela democracia — e isso é um grande problema e uma grande preocupação.
Vamos ver agora o que vai acontecer com o caso Zambelli. Vamos ver se o governo de Giorgia Meloni vai conceder asilo político, oferecer cobertura política ou criar um embaraço diplomático.
A DIPLOMACIA ENTRE O BRASIL E A ITÁLIA
Ainda não houve nenhum tipo de abalo nas relações diplomáticas entre os países, nem por conta desse episódio nem por nenhum outro. Acho que é muito importante falar apenas dos fatos. A relação política e diplomática entre Brasil e Itália — que é um país muito importante — está tutelada e preservada.
