
O Congresso de El Salvador aprovou na última quinta-feira (31) uma reforma constitucional que permite a reeleição presidencial por tempo indeterminado, consolidando o poder de Nayib Bukele. Considerado ídolo dos bolsonaristas, o presidente salvadorenho poderá concorrer quantas vezes quiser, com apoio massivo do parlamento controlado por sua base.
A medida foi aprovada por 57 dos 60 parlamentares e inclui outras mudanças drásticas: o mandato presidencial passará de cinco para seis anos, o segundo turno nas eleições será extinto e o presidente poderá ser eleito com maioria simples de votos.
Segundo a deputada governista Ana Figueroa, o objetivo da reforma é “dar todo o poder ao povo salvadorenho” e equiparar o cargo de presidente aos demais mandatos eletivos. Ela também alegou que o novo modelo trará “maior estabilidade”, “segurança política e jurídica” e “redução de custos”.
A nova legislação antecipa ainda o fim do atual mandato de Bukele, iniciado em 2024, para 1º de junho de 2027. Nesse ano, El Salvador terá novas eleições presidenciais, que ocorrerão simultaneamente com as eleições legislativas e locais.
Bukele foi reeleito em fevereiro de 2024 com 82,8% dos votos, apesar de a Constituição proibir a reeleição. Para contornar a regra, contou com a chancela da Câmara Constitucional da Suprema Corte de Justiça, dominada por magistrados alinhados ao governo, que permitiu sua candidatura. A decisão provocou críticas internacionais e acendeu alertas sobre o futuro da democracia no país.

Especialistas apontam que a reeleição indefinida compromete a alternância de poder e amplia o risco de autoritarismo.
Antes da aprovação da reforma, a diretora para as Américas da Human Rights Watch, Juanita Goebertus, alertou: “Eles estão trilhando o mesmo caminho que a Venezuela. Começa com um líder que usa sua popularidade para concentrar o poder, e termina em uma ditadura”.
Organizações não governamentais também têm denunciado a escalada na repressão contra opositores e críticos do governo Bukele. Entre os casos mais emblemáticos estão as prisões dos advogados e ativistas Ruth López e Enrique Anaya, que vinham denunciando retrocessos institucionais.
Nayib Bukele é visto como ídolo da extrema-direita por sua política de segurança extremamente dura e centralizadora, marcada por prisões em massa, restrições a direitos civis e enfraquecimento de instituições democráticas, como o Judiciário e a imprensa.
Sua retórica autoritária, o uso estratégico das redes sociais e a ênfase em “ordem e combate ao crime” o alinham com líderes populistas de direita que priorizam controle e força em detrimento das garantias constitucionais.