POLÍTICA

Governo do RJ admite falta de perícia e usa “contexto” para definir mortos como criminosos

Moradors protestam em rua onde estavam os corpos de homens que morreram durante ação da Polícia na última terça-feira (28) no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, afirmou nesta quarta-feira (29) que autoridades utilizaram informações de contexto, como horário, local e vestimentas, para classificar como criminosos os mortos em operação no Complexo da Penha e do Alemão, realizada na terça-feira (28). Segundo o governo, 119 pessoas morreram, incluindo quatro policiais, e os corpos chegaram ao Instituto Médico-Legal ao longo do dia.

Santos declarou que, mesmo sem perícia concluída, as equipes consideraram elementos como uso de coletes balísticos e roupas camufladas. “Há base para dizer que os 115 mortos são criminosos. Claro que a gente vai fazer a pesquisa, mas não é um fato se, eventualmente, algum deles não tiver antecedentes criminais, se tornar vítima ou inocente. A história do Rio de Janeiro já mostrou que criminosos, apesar de vasta vida criminosa, não tem antecedentes”, disse.

“A gente não consegue imaginar um inocente utilizando um colete balístico, mesmo se não tiver com arma naquele momento. A gente não consegue imaginar um inocente usando um uniforme camuflado”, completou.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que a contagem dos mortos ocorre conforme os corpos são catalogados no IML. Ele informou que moradores retiraram corpos da área de mata antes da chegada de peritos e disse que essa remoção poderá ser analisada em inquérito. Moradores retiraram roupas de alguns corpos para auxiliar a identificação por tatuagens e cicatrizes.

Corpos enfileirados em praça na Penha, zona norte do Rio – Eduardo Anizelli/Folhapress

De acordo com autoridades, a operação concentrou ações na Serra da Misericórdia. Agentes formaram um cordão de policiamento entre área urbana e floresta, estratégia apelidada de “muro do Bope”. A versão oficial afirma que suspeitos ficaram encurralados enquanto tentavam atravessar zonas controladas por facções.

Durante a madrugada e a manhã, moradores transportaram dezenas de corpos para uma praça próxima. Segundo relatos, famílias retiraram itens de vestimenta dos mortos após reconhecimento visual. Representantes locais afirmaram que a prática foi adotada para agilizar a identificação pelos parentes.

O governo informou que os laudos periciais serão concluídos posteriormente. Enquanto isso, classificações preliminares seguirão sendo feitas com base em ‘contexto’.

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