
O Financial Times publicou uma reportagem detalhando como Donald Trump, durante seu mandato na presidência dos Estados Unidos, transformou as tarifas de importação em uma ferramenta de pressão política, diplomática e geopolítica. De acordo com o jornal, essa estratégia não se limitou ao objetivo tradicional de proteger setores internos ou reduzir déficits comerciais, mas passou a servir como instrumento para negociar e, muitas vezes, forçar concessões de outros países em temas que vão além do comércio.
A análise do Financial Times destaca que, nas disputas recentes com Brasil e Índia, Trump adotou uma postura agressiva, ameaçando ou impondo tarifas para alcançar objetivos mais amplos, como vantagens estratégicas e alinhamentos políticos. No caso do Brasil, por exemplo, houve ameaças relacionadas à importação de aço e alumínio, vinculadas a questões ambientais e à política cambial. Já no caso da Índia, as tarifas foram parte de uma pressão por maior abertura de mercado para produtos norte-americanos e mudanças em políticas internas vistas como desfavoráveis aos EUA.
O jornal observa que Trump percebeu o peso econômico dos Estados Unidos como uma forma de influência direta sobre outros governos. Ao invés de depender apenas de negociações diplomáticas tradicionais, ele usava tarifas como alavanca imediata para obter resultados, aproveitando-se da dependência de muitos países em relação ao mercado americano. Essa prática, segundo o Financial Times, marcou um afastamento da postura mais previsível adotada por governos anteriores, inserindo maior volatilidade e imprevisibilidade nas relações comerciais internacionais.

A reportagem também aponta que esse uso “armado” das tarifas contribuiu para criar tensões duradouras com aliados históricos e adversários, como Canadá, China e países da União Europeia. Embora em alguns casos a estratégia tenha levado a acordos pontuais, também gerou retaliações, disputas comerciais prolongadas e desgaste na imagem internacional dos Estados Unidos.
Em resumo, segundo o Financial Times, Trump remodelou o papel da política tarifária norte-americana, convertendo-a em uma arma multifuncional: um mecanismo para atender a interesses econômicos internos, um meio de exercer pressão diplomática e uma demonstração clara de poder e de disposição para impor custos a outros países que contrariem os objetivos de Washington.