POLÍTICA

Detector de metais revela possível corrente da escravidão dentro de árvore em Minas Gerais

Paineira centenária em cafezal de Cabo Verde (MG) apita quando avaliada por detector de metal. Foto: Coletivo Memora

Pesquisadores identificaram, em Cabo Verde (MG), uma paineira centenária que pode guardar vestígios do período da escravidão. O tronco da árvore, com cerca de três metros de diâmetro, reagiu a um detector de metais, indicando a presença de um objeto metálico em seu interior. Segundo relatos transmitidos por gerações, o local teria sido usado no século 19 para castigar e vender pessoas escravizadas. As informações são do g1.

A descoberta foi feita pelos pesquisadores Lidia Maria Reis Torres, da Unicamp, e Luís Eduardo Oliveira, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). Eles investigam a história negra e indígena do município, fundado em 1762. O equipamento apontou a existência de metal em um ponto específico da árvore, reforçando a hipótese de que se trata de uma corrente de ferro usada para prender escravizados.

A propriedade onde a paineira está localizada pertence à família de Daniel Paiva Batista desde 1930. Ele conta que escuta desde a infância relatos de que o local servia para punir e vender escravizados “folgados”, presos ao tronco com correntes. “Conforme a árvore cresceu, a corrente ficou apertando até ser escondida dentro dela”, relatou Batista, que procurou os pesquisadores para investigar a história.

O professor Luís Eduardo Oliveira defende que o artefato permaneça dentro da árvore, transformando-a em um espaço de memória. “Se a gente tirar o objeto, ele vira apenas um pedaço de ferro. Assim como está, é um símbolo vivo da história de Cabo Verde e da escravidão na região”, disse.

Paineira centenária em cafezal de Cabo Verde (MG) apita quando avaliada por detector de metal. Foto: Coletivo Memora

Segundo a bióloga Luciana Botezelli, da Unifal, é raro uma paineira viver por séculos, mas possível. Ela explica que árvores podem envolver objetos metálicos à medida que crescem. “É um processo de adaptação. A árvore cria uma estrutura ao redor do material que impede seu crescimento, até engoli-lo por completo”, afirmou.

A descoberta surgiu após a produção de um documentário sobre a presença negra e indígena na cidade, que revelou a ausência de registros formais sobre o passado escravocrata local. Para os pesquisadores, a paineira é prova de como as histórias orais ajudam a preservar memórias silenciadas. “Importa menos a prova material e mais o que ela representa: um símbolo de resistência e de memória coletiva”, concluiu Lidia Maria Reis.

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