POLÍTICA

Como o petróleo russo virou problema para Modi e vantagem para Trump

Papeis da Reliance Industries, presidida por Ambani, chegaram ao patamar mais alto da série histórica

O bilionário Mukesh Ambani, homem mais rico da Ásia e dono da Reliance Industries, está no centro da nova tensão comercial entre Estados Unidos e Índia. Sua refinaria em Jamnagar, a maior do mundo, processa cerca de 1,5 milhão de barris de petróleo por dia, sendo um terço proveniente da Rússia. A importação e revenda de petróleo russo por empresas indianas motivaram o presidente Donald Trump a impor uma tarifa de 25% sobre produtos indianos, alegando que o país estaria ajudando Moscou na guerra contra a Ucrânia.

Além da Reliance, outra gigante do setor, a Nayara Energy, também opera em Jamnagar e tem participação de 49% da russa Rosneft. Essa ligação direta com Moscou fez com que as refinarias indianas se tornassem, desde 2022, as maiores compradoras mundiais de petróleo russo transportado por mar, aproveitando descontos oferecidos pela Rússia após ser excluída do mercado europeu. Parte do combustível refinado ainda volta a ser exportada para a Europa.

Durante os primeiros anos da guerra na Ucrânia, Washington tolerou a prática, inclusive incentivando a compra de petróleo russo para estabilizar preços. No entanto, a postura mudou sob Trump, que, além de aumentar a tarifa, insinuou nas redes sociais que os EUA poderiam buscar petróleo no Paquistão, rival histórico da Índia. Para analistas, a medida é mais política do que econômica, mas coloca o governo de Narendra Modi em situação delicada.

A Índia importa 85% do petróleo que consome e, historicamente, depende do Golfo Pérsico para suprir essa demanda. O comércio com a Rússia reduziu custos e fortaleceu o setor de refino, mas agora está sob risco com a pressão americana e a possibilidade de sanções adicionais da Europa. Empresas como Reliance e Nayara já vinham reduzindo as compras russas, mas qualquer recuo mais visível pode ser interpretado como capitulação diante de Trump.

Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: reprodução

A Reliance afirma que sua lucratividade não depende exclusivamente dos descontos do petróleo russo e que mantém desempenho financeiro sólido há décadas. Já a Nayara, mais dependente do mercado russo, não comentou o caso. Especialistas apontam que, independentemente das tarifas, a Índia continuará buscando alternativas de abastecimento para sustentar seu crescimento econômico e evitar impactos severos na balança comercial.

O impasse evidencia como o petróleo russo se tornou um ponto sensível nas relações entre Nova Délhi e Washington. Para Modi, a equação envolve manter o acesso a energia barata, proteger gigantes nacionais como a Reliance e evitar atritos diplomáticos que comprometam parcerias estratégicas. Para Trump, trata-se de pressionar a Índia a se alinhar mais diretamente com os interesses americanos na guerra da Ucrânia.

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