POLÍTICA

Com Lei Magnitsky, EUA atentam não contra Moraes, mas contra o estado brasileiro. É golpe

Presidente dos EUA, Donald Trump. Foto: Divulgação

Por Reynaldo Aragon

Os Estados Unidos atravessaram uma linha inédita nas relações com o Brasil. O anúncio das sanções da Lei Global Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, congelando bens e bloqueando transações em solo americano, não é um gesto isolado.

A medida vem acompanhada do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, que passa a vigorar em 1º de agosto, atingindo diretamente cadeias produtivas estratégicas como carnes, aço, café e suco de laranja. É uma escalada cuidadosamente planejada que coloca o Brasil em uma posição delicada no tabuleiro internacional.

O cerco não começou hoje. Em 18 de julho, Washington já havia revogado o visto de Moraes e de seus familiares, em um ato visto como retaliação direta aos processos que envolvem Jair Bolsonaro. Agora, a aplicação da Lei Magnitsky contra uma das figuras mais relevantes do Judiciário brasileiro marca um precedente sem paralelo na história. Com as tarifas adicionais, o impacto vai muito além da diplomacia: afeta a economia, a credibilidade institucional e a própria soberania nacional.

A Lei Magnitsky é apresentada como um mecanismo “cirúrgico” para punir indivíduos envolvidos em corrupção e violações de direitos humanos. Mas, na prática, funciona como uma arma de guerra híbrida. Quando uma autoridade ou empresa estratégica é atingida, o efeito se espalha por todo o Estado: ativos são bloqueados, parceiros internacionais recuam e instituições sofrem um desgaste profundo. Foi assim na Rússia e na Venezuela, onde as sanções Magnitsky abriram caminho para o isolamento econômico. Putin classificou a medida como “uma sanção contra o Estado”.

O roteiro é o mesmo agora. Ao atacar Moraes, os EUA não questionam apenas um indivíduo, mas a própria legitimidade do sistema de Justiça brasileiro. E a lógica estratégica está clara: empurrar o Brasil para uma ruptura diplomática. Uma vez enquadrado no chamado “eixo do mal”, toda medida futura – bloqueio de reservas, restrições tecnológicas, exclusão de mercados – passa a ser justificada sob a narrativa de que o país representa uma ameaça à democracia.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Foto: Divulgação

Os riscos são imensos. O bloqueio de reservas internacionais brasileiras, algo já praticado contra Venezuela, Irã e Rússia, é uma possibilidade concreta. A dependência tecnológica é outro ponto sensível: grande parte da infraestrutura de segurança e comunicação do Brasil está nas mãos de empresas norte-americanas e israelenses, o que expõe sistemas estratégicos a interrupções ou sabotagem em um cenário de hostilidade declarada. Na economia, as tarifas de 50% já colocam cadeias produtivas inteiras em risco e podem gerar a perda de milhares de empregos.

Mais grave ainda é o componente interno. A pressão externa quase sempre vem acompanhada de campanhas de desinformação e narrativas capazes de desestabilizar instituições e governos. O Brasil já viveu algo semelhante em 2013 com as Jornadas de Junho, mas agora a máquina de guerra informacional está ainda mais sofisticada e letal.

O país está diante de um ataque coordenado e multifacetado à sua soberania. Sanções pessoais, tarifas comerciais e dependência tecnológica formam um cerco que pode comprometer a capacidade do Brasil de decidir seus próprios rumos. Se reagir de forma precipitada e romper relações diplomáticas, cairá na armadilha montada e será classificado como “hostil”. Se nada fizer, a corrosão será lenta, mas constante.

O desafio é romper o cerco com inteligência. Isso exige blindar reservas internacionais, reduzir dependências externas em setores estratégicos, construir alianças com países que defendam um mundo multipolar e, sobretudo, proteger a narrativa nacional. Não é apenas uma questão de comunicação: é a construção de um consenso interno de que a soberania brasileira está sob ameaça real.

O que está em jogo vai muito além do destino de Alexandre de Moraes ou da economia de um setor específico. É a própria sobrevivência do Brasil como nação independente. Cada passo dado agora será usado contra ou a favor da soberania nacional. O país pode ser empurrado para o isolamento e a submissão, ou pode reagir de forma estratégica e resistir ao cerco híbrido. O tempo, como sempre, é curto.

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