
Em meio ao novo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros, uma pesquisa do Datafolha mostra que os brasileiros veem a China como um parceiro comercial mais confiável do que os EUA. A matéria foi publicada originalmente pelo jornal O Globo e evidencia a mudança na percepção pública diante das recentes tensões econômicas entre Brasília e Washington.
Segundo o levantamento, 23% dos entrevistados afirmam que o Brasil “pode confiar muito” na China, enquanto apenas 19% têm a mesma opinião sobre os Estados Unidos. A desconfiança em relação a Washington é mais acentuada: 46% dizem que o país “não é confiável”, contra 29% que pensam isso da China. Nesse cenário, o gigante asiático, integrante dos BRICS ao lado do Brasil, surge como uma alternativa estratégica para o comércio exterior brasileiro, especialmente diante do endurecimento da política tarifária norte-americana.
O tarifaço decretado por Trump foi oficializado ontem, com aumento nas tarifas sobre diversos produtos brasileiros — embora algumas mercadorias tenham sido excluídas da lista final. A medida gerou forte apreensão no Brasil: 89% dos entrevistados acreditam que a decisão prejudica a economia do país, e 77% temem impactos diretos em suas finanças pessoais. Dentre esses, 43% preveem prejuízos significativos, 34% esperam efeitos moderados, e 19% acreditam que não haverá consequências.
Frente à crise, a maioria dos brasileiros prefere uma resposta diplomática. De acordo com a pesquisa, 72% defendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negocie com os EUA para reverter a decisão. Apenas 15% sugerem aplicar retaliações tarifárias, enquanto 6% aceitariam ceder às condições impostas por Washington — que incluem exigências políticas delicadas, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. Entre os eleitores de Bolsonaro, o índice de aceitação dessas exigências sobe para 13%, embora 92% reconheçam que o tarifaço trará prejuízos à economia nacional.
A pesquisa ouviu 2.004 pessoas em 130 municípios entre os dias 29 e 30 de julho de 2025, com margem de erro de dois pontos percentuais. Os dados reforçam que a ofensiva comercial de Trump tende a estreitar os laços entre Brasil e China, ao mesmo tempo em que coloca pressão sobre o governo Lula para buscar soluções diplomáticas e evitar impactos mais graves sobre a economia do país.