POLÍTICA

‘Carluxo é pinel e Zambelli quis me envenenar’, diz Joice ao defender prisão de Bolsonaro

A jornalista e ex-deputada Joice Hasselmann, que assumiu a liderança do governo Bolsonaro no Congresso em 2019, tornou-se uma das vozes mais críticas do bolsonarismo. Em entrevista ao DCM nesta terça-feira (05), ela revelou bastidores e relembrou episódios marcantes de sua trajetória — do apoio inicial ao rompimento com Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados.

BOLSONARO DEVE SER PRESO EM REGIME FECHADO

Não acho que a última aparição de Bolsonaro seja essa cena dele mostrando a tornozeleira. Quando, no passado, ele disse que nunca seria preso, isso mostra muito do que ele é: essa arrogância de achar que é maior do que tudo e todos, inclusive maior que o Brasil.

Na mente de psicopata dele, ele chegou onde chegou porque cresceu tanto na cadeira de Presidente da República que achou que seria maior que o país e inimputável por qualquer coisa. Isso faz parte da personalidade dele: fazer qualquer coisa e achar que a lei nunca vai alcançá-lo.

Eu tenho algumas fontes dentro do STF que piam no meu ouvido que a prisão de Bolsonaro será, inicialmente, em regime fechado. Ele pode inventar um problema de saúde – a gente sabe que ele tem problemas de saúde –, mas toda vez que tem uma crise, lá vem ele com problema de saúde.

Idade avançada não pode ser desculpa. Lula também tinha idade avançada e pegou regime fechado. Claro que Bolsonaro não será jogado no meio de presos comuns, como Lula, que ficou em cela diferente e com regalias que presos normais não têm, mas é importante que a lei se cumpra como deve ser para todos. A sequência de crimes é muito grave, e uma parte da população não digeriu ou finge que não entendeu. A gente poderia estar chorando mortos do golpe agora.

Um dos fatos que me afastou do governo foi saber que, já em 2019, havia uma intenção de dar um golpe na época da presidência de Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados. Tem gente que minimiza o 8 de janeiro, mas é muito grave — nem o Capitólio foi tão grave.

Outros presidentes já foram presos. Bolsonaro não será o primeiro. Nem Lula foi. Outros já foram. O importante é que a justiça seja feita.

As pessoas pensam que estou vibrando por conta de Bolsonaro e seus filhos terem me perseguido 24 horas por dia, durante quatro anos, com o gabinete do ódio, por terem destruído minha reputação. Muita gente me atacou. Fui a Geni apedrejada por muita gente. Mas, nem por isso, comemoro. Na verdade, lamento. Gostaria que fosse diferente. Mas não foi. E, não tendo sido — ele tendo sido criminoso — precisa pagar pelo criminoso que é. Canalhas também envelhecem. Então, não é porque ele está velho que não será preso.

BOLSONARO É BURRÃO, MAS NÃO É IDIOTA

Bolsonaro é burrão, mas não é idiota. Ele tem uma esperteza além de muita gente. Inclusive no que aconteceu domingo — ao descumprir a medida cautelar. Aquilo foi um desafio claro à Justiça.

No primeiro ano de governo, não havia chance de Bolsonaro dar um golpe, pois ele ainda não tinha um alinhamento tão fechado com as Forças Armadas. Ele foi construindo isso. Mas, já no primeiro ano, entre junho e julho, certa vez, estávamos em uma reunião: eu, Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, o general Mourão e mais algumas pessoas que não lembro.

A reunião acabou, e fomos conversar em grupinhos — eu com Mourão, Onyx com Bolsonaro — e estava toda uma onda na época sobre o artigo 142 (usado como argumento para a intenção de golpe militar por Bolsonaro).

Nesse momento, fiz uma brincadeira com o Mourão e falei: — E aí, Mourão, e essa palhaçada do 142?

Ele olhou bem sério nos meus olhos e disse: — Joice, já existe um decreto assinado, só esperando a Câmara brincar — e apontou para a gaveta do presidente. Isso me deu um frio na espinha.

Nessa altura, eu já havia decidido deixar o governo após a Reforma da Previdência, mas fiquei tão desesperada com o que ele disse que, para mim, foi o ponto final.

Saí dali e fiz uma ligação ao ministro Dias Toffoli, que era presidente do Supremo. No dia seguinte, sábado, fui à casa do Toffoli e contei que havia já esse documento assinado, que chamaria o artigo 142 ou instauraria um estado de sítio, caso não houvesse acordo com a Câmara. Eu deixei nas mãos dele para lidar com essa informação e falei: — Tome suas medidas.

Como líder do governo no Congresso, fiquei ali tentando fazer com que as coisas andassem, que Bolsonaro e Rodrigo Maia tivessem o mínimo de civilidade, porque ele atacava o Rodrigo Maia publicamente. Era uma coisa horrorosa, e eu ficava limpando a sujeira, tentando mediar, já que eu tinha (e tenho até hoje) uma boa relação com o Rodrigo Maia.

EU ACHAVA BOLSONARO UM “BOCA MOLE” SEM CORAGEM PARA O GOLPE

Eu tinha o meu jeito de fazer política sem partido. Sempre fui uma jornalista de política e fazia meu jornal com mais audiência que CBN, BandNews e Jovem Pan. E foi por isso mesmo que Bolsonaro me procurou e essa sanha golpista do Bolsonaro, sinceramente, eu achava que eram arroubos de “boca mole que fala pelos cotovelos”. Mas, quanto mais ele se aproximava de mim, eu percebia que ele era mesmo limitado intelectualmente, mas considerei que fosse honesto. Achei que isso se corrigiria com pessoas qualificadas ao lado dele.

E, logo no começo, quem eram essas pessoas? Eu, articulando com o Congresso; Gustavo Bebianno, aliado de primeira hora — que o Bolsonaro matou duas vezes, porque Bebianno morreu de desgosto, e, quando ele o chutou, matou a alma dele —; Paulo Guedes; Onyx Lorenzoni, antes de surtar; e ainda o Sérgio Moro, antes de a gente saber das “coisinhas”.

Muita gente diz que fui poliana. E paciência, fui mesmo, pois realmente acreditava que ele era honesto. Era um desejo. Entrei na política para isso. Quando entrei para a política, perdi muito dinheiro, larguei tudo por um projeto que acreditava que seria de mudança da nação. E isso foi definhando para mim. Cheguei uma planta linda e fui definhando até adoecer.

E até hoje me culpo por ter apoiado e por ter estado do lado daquela gente. Mas fiz meu papel como deputada. Meu desgaste com o governo começou já na transição. Ali eu vi que a Cinderela era uma Gata Borralheira.

BOLSONARO ASSUME PAPEL DE DEUS COM O PERFIL DO DIABO

Quando assumiu, Bolsonaro sabia que precisava colar na gente, pois não tinha pernas para caminhar sozinho. Logo, começou a sentir o gosto do poder. Ele começou a inflar e, aí, não havia quem ele ouvisse. Mandava todo mundo calar a boca, tratava como lixo, se sentia como Deus, se considerava Deus. Ele vai direto para o inferno se continuar sendo um cristão de meia-pataca que se acha Deus.

Quando ele assume esse papel de Deus com perfil do Diabo, começaram a acabar todas as relações ao redor dele, e ficaram só os que se acadelavam para ele. Eu ficava com pena das pessoas que mostravam os fundilhos para ele — os ministros se acadelando, o papel deplorável que o Onyx fez.

Eu tenho dignidade, decência, e não me acadelaria para ninguém, muito menos para um marmanjo que chegou à cadeira de Presidente da República “chupando” a pauta dos outros.

BOLSONARO PARTIU PARA CIMA DE MIM

Ele fez uma investida para cima de mim uma vez, mas eu reagi. Estávamos só nós dois na sala da presidência. Eu estava sentada e ele na cadeira presidencial. Já estávamos discutindo porque ele queria que eu defendesse o Flávio naquela história da rachadinha. Dizia que eu tinha que fazer isso como líder do governo, e eu disse que não faria, pois não acreditava naquilo.

Então ele levantou e armou o peito para o meu lado. Eu levantei, cruzei os braços e fiquei esperando. Pensei: — É hoje que derrubo esse velhinho. Eu sei bem me defender. Fiz artes marciais, boxe e caratê, e, se ele viesse para cima de mim, a briga seria boa. Mas ele recuou. Eu não me acovardei, como muitos deputados e deputadas fizeram.

CARLA ZAMBELLI ME MATARIA SE PUDESSE

Carla Zambelli é uma das figuras mais sui generis que conheci. É uma atriz perfeita, que se encaixa em qualquer papel: de mulher aguerrida em cima do caminhão gritando; de coitadinha, que chora porque não tem dinheiro para pagar a escola do filho; de mulher capacho, que gruda no Bolsonaro e só falta tomar uns tapas na cara e continua lá — os tapas morais ela tomou —; e de mulher perigosa, que sai de arma em punho em uma tentativa de assassinato. A Carla é essa psicopata que faz tudo sem remorso algum.

Está muito certo o ministro Gilmar Mendes em pedir para agregar ao processo de extradição o caso em que ela sai armada nos Jardins — e no qual ela já está condenada —, pois ela é uma pessoa de alta periculosidade.

Eu também fui uma das vítimas da sanha louca da Zambelli. Vou confidenciar aqui: Uma vez, nós duas estávamos às turras, e ela viajou e me trouxe uma caixa de chocolates. Eu joguei no lixo, pois tinha certeza de que estava envenenada. Ela chegou com um olhar meio fechado, monstruoso, me olhou e falou: — Olha, lembrei de você.

Aquilo me deu um ruim. Eu sabia do que ela era capaz. Ela seria capaz de envenenar o chocolate para que eu ficasse adoecida ou até morresse. A Carla é essa pessoa que usa os outros para conseguir informação.

Quando falei que ela “passava o rodo” nos delegados da Polícia Federal para conseguir informações privilegiadas da Operação Lava Jato, é a pura verdade. Eu não deveria ter falado, mas é verdade.

Ela tem esse instinto predador e faz de tudo para sobreviver e conseguir o que quer. Tanto é que entrou no sistema do CNJ, né? Não é como se tivesse quebrado a senha do filho para ver se ele está vendo bobagem na internet. Olha o tamanho da psicopatia. Ela abraçada ao Walter Delgatti para cima e para baixo, depois dizendo que não o conhecia, achando que não daria em nada para ela.

Eu morava bem perto de onde ela saiu com a arma na rua, aquela vez. Eu falei: — Olha, se eu estivesse passando por ali, teria levado um tiro. Se tivesse oportunidade, tenho certeza de que Carla Zambelli me mataria. Sem a menor dúvida. Se ela quase matou um desconhecido e teve que ser contida, imagina comigo, que me tornei arqui-inimiga.

A Carla ficou com ódio de mim porque achava que minha candidatura à deputada a prejudicaria. O plano original era eu sair ao Senado, o Major Olímpio faria um tubo de ensaio e iria para a Câmara, mas a campanha dele decolou, e o Bolsonaro pediu para eu ir como deputada. Mesmo não querendo, aceitei.

Falei para a Carla que as pesquisas me davam mais de 300 mil votos garantidos, que minha cadeira estava garantida e que isso ajudaria a puxar a candidatura dela. Mesmo assim, ela achava que eu a prejudicaria e que tomaria a vaga dela.

A mãe dela me ligava me ameaçando, dizendo que a Carla precisava dessa vaga porque não tinha para onde ir, precisava de dinheiro, queria o salário, precisava de emprego, pois não tinha nada. Ela era financiada pelo Clube do Porsche, daqueles movimentos de rua, que estavam no fim. Então, não foi pelo Brasil. Foi por dinheiro.
Aí eu conheci a Carla Zambelli — e a escada dos olhos foi caindo.

AMEAÇA DE ASSASSINATO

Eu já passei por momentos muito duros, em que fui ameaçada de morte e de estupro. Minha filha teve que mudar o sobrenome para entrar na universidade e não ter ligação comigo. Meu filho teve que se mudar de São Paulo para o interior.

Passei a usar escolta de um batalhão porque a ABIN me seguia. Tive um episódio de agressão dentro do meu apartamento. Não é que eu não tenha tido medo; tenho filhos e preciso terminá-los de preparar para a vida, mas nunca tive medo de morrer.

Essa coragem até me atrapalha, pois se alguém me chamar para a briga, eu vou.

Meus filhos e meu marido estão protegidos. Tenho segurança que me acompanha sempre — até para evitar coisas menores, como algum bolsonarista louco me atacar por aí.

Fui muito alvo desse bolsonarismo. A coisa arrefeceu, e agora, com a prisão do Bolsonaro, aqueceu de novo. Eu já tive quase a certeza de que tentariam me matar de alguma forma.

HOJE ESTOU LINDA, MARAVILHOSA, GOSTOSÍSSIMA E PODEROSA

Não retorno para a política, só por um milagre. A política me tirou dinheiro, paz e saúde. Lembra que engordei quase 30 kg? Tive que me tratar. Entrei como modelo e saí obesa. Tive que me tratar.

Hoje estou linda, maravilhosa, gostosíssima e poderosa. Mas isso me custou saúde e meu útero. Tive um nível de descontrole hormonal, hemorragia por tensão, estresse e depressão, que custou meu útero.

OS CANDIDATOS DA DIREITA PARA 2026

Desses candidatos todos, Michelle é um horror. Se a gente diz que Bolsonaro tem a capacidade intelectual de uma ervilha, Michelle é pior. Só Jesus na causa. Até porque aquele personagem de santinha é só personagem; eu a conheço muito bem, e não é nada daquilo.

Eu gosto do Tarcísio, do Caiado e do Ratinho Jr. Acho que são bons governadores e homens fortes. Tarcísio tem o calcanhar de Aquiles da segurança pública, que é o nicho do Bolsonaro. Ele é quem manda na segurança pública em São Paulo — ele e os filhos. O ruim dessa história é que qualquer candidato da direita precisará da bênção do Bolsonaro para somar com a centro-direita.

Essa extrema-direita tem uns 18% da população. Tarcísio teria essa bênção de Bolsonaro, mas não se submeteria aos caprichos da família Bolsonaro após as eleições. Caiado também é um cabra forte. Conheço ele desde que cobria política e sei que é firme, impressionante.

Muita gente não está dando atenção para o Ratinho, mas ele é o cara que fura bolha. É do PSD, conversa com todos os espectros porque é muito maleável, não fica batendo bumbo para Bolsonaro, é de fácil trato, foi deputado por bastante tempo e acho que vai surpreender nessa eleição — ainda que eu ache que vão tentar arrastá-lo para vice.

MICHELLE BOLSONARO CALOTEIRA

Me afastei rápido da Michelle. Ela é muito baixa no tipo de conversa, além de tudo é caloteira e me deve dinheiro até hoje.

Ela queria levar o maquiador para a posse, mas, como ele é gay, Bolsonaro não deixava o cara entrar no avião presidencial. Ela pediu para eu dividir o maquiador com ela: eu pagaria o cachê, e ela a passagem do Rio de Janeiro para Brasília.

Só que ela me ligou e pediu para eu pagar tudo, e depois ela acertaria. Foi até meu marido que pagou a passagem, e temos o recibo até hoje.

No dia da posse, lá no Palácio, apareceram prima, primo, todo mundo para maquiar. Eu até fui me maquiar sozinha. E até hoje ela me deve.

Então: — Me pague, Michelle, tá? Você me deve uma passagem aérea, tá?!

O FUTURO DOS FILHOS DE BOLSONARO

O Eduardo ficou na “casa do sem jeito”. Se pisar no Brasil, será preso. Eu vi a casa em que ele está morando, pois a deslumbrada da mulher dele posta e depois apaga. Aquiles R$ 2 milhões que Bolsonaro passou para ele não dão para seis meses naquele padrão. Quem está pagando essa conta? Essa gente tem muita grana escondida, desviou muito dinheiro por meio de empresários brasileiros, especialmente na área da construção civil, que eu até sei quem são, mas não posso falar porque, se não, eu que me lasco.

O Flávio é o mais esperto, gosta de dinheiro, faz os esquemas mais grossos, é o “cara da mala”. Acho que vai tentar se cacifar ainda como candidato a governador ou tentar se enfiar de vice em alguma chapa. Ele é mais frio, calculista, enquanto o Eduardo só faz merda.

Já o Carluxo está em uma jogada boa com duas vagas para o Senado, indo por Santa Catarina, que tem 70% do estado bolsonarista, e ele está eleito. Só não sei como ele vai lidar com o Senado, porque ele é pancada, doidinho, não bate bem da cabeça. Ele tem uma relação muito complicada com o pai, que eu não vou contar, mas ele é pinel. Não sei como ele reagiria ao Senado. Eu não fico sozinha numa sala com Carlos Bolsonaro, porque ele é completamente louco. Ele ri e chora nessa euforia e depressão em variação enorme. Ele me dá calafrios.

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