
O brasileiro Henrique Almeida, 26 anos, foi vítima de xenofobia e violência na cidade do Porto, região norte de Portugal. O professor de Educação Física foi atendido em um hospital da região após ser agredido com duas garrafadas na cabeça.
A Opera Mundi, Almeida afirmou que a agressão ocorreu na tarde de segunda-feira (04/08) enquanto preparava uma de suas aulas. Um dos agressores é português e está foragido.
A vítima contou que costuma usar sua bicicleta como meio de transporte, principalmente em dias de calor, e, frequentemente, pedala sem camisa, prática que não é considerada ilegal na cidade. No dia, ao chegar perto do horário da aula programada às seis e meia da tarde, ele parou em frente a um estabelecimento que inicialmente não percebeu ser comercial.
Enquanto estava no telefone, Almeida foi abordado por um rapaz chamado Pedro Alves, que se aproximou bebendo cerveja. Segundo a vítima, o agressor o repreendeu por estar sem camisa na frente do salão de estética da sua esposa. Ao perceber a hostilidade, o brasileiro tentou se explicar, afirmando que ficaria de costas para a loja a fim de não causar incômodo e que permaneceria ali por mais alguns minutos. No entanto, a vítima afirma que o português passou a proferir palavras ofensivas.
“Ele começou a dizer que eu não estava no Brasil e que aqui não era minha terra. Ignorei, mas ele bateu com a garrafa em mim, jogando cerveja, e passou a me ameaçar. Quando tentei argumentar, ele me deu uma garrafada na têmpora, deixando-me desnorteado”, disse.
Ainda segundo Almeida, enquanto ele estava de costas, já ferido, indo na direção de sua bicicleta, o agressor continuou se aproximando com a garrafa quebrada até atingir a nuca do brasileiro.
Arquivo pessoal
“Comecei a sangrar e a ficar tonto. Tentei pegar minha bicicleta para sair dali enquanto ouvia palavras agressivas, além de frases como ‘volta para o seu país’, ‘aqui não é a sua terra’”, contou. Quando a polícia chegou, ele já estava sendo socorrido por moradores em uma academia próxima.
Após o atendimento médico, o brasileiro foi até a delegacia para registrar o boletim de ocorrência. Dois dias depois, retornou para realizar a perícia. Testemunhas que presenciaram a cena disseram estar dispostas a depor em favor do professor.
Racismo estrutural
Almeida e sua companheira Natalya Freitas, que residem de forma legal no país há quase dois anos, reforçaram a Opera Mundi que a agressão foi xenófoba, motivada por ele ser brasileiro e estar pedalando sem camisa, uma prática comum em um período em que Portugal enfrenta temperaturas que ultrapassam os 40 graus.
Nesta quinta-feira (07/08), ele voltou até o salão de Marta Baessa, esposa de Pedro Alves, explicando que, na delegacia, tinha apresentado os nomes e endereços dos agressores. No entanto, ela se negou a revelar o paradeiro do marido. Por conta disso, o professor de educação física chamou a polícia novamente para registrar a ocorrência.
Quando a polícia chegou, de acordo com o casal, um deles demonstrou compreensão com a situação, enquanto o colega fazia comentários com conotação xenofóbica, afirmando que não podiam considerar aquilo como racismo, apesar das palavras serem claramente racistas.
Agora, o casal, que planeja se casar em setembro às margens do Rio Douro, expressaram receio de que a situação possa afetar a permanência deles no país. Ao relatar o caso nas redes sociais, Natalya, que trabalha com marketing digital, lembra que algumas pessoas defenderam o agressor, incluindo ainda menções preconceituosas em relação ao seu sotaque brasileiro.
“Quando eu vim pra cá o pessoal falava que existia muita gente racista por aqui, mas eu achava que era conversa fiada, até o dia em que aconteceu comigo”, finalizou.
Lei dos Estrangeiros
Mais cedo nesta sexta-feira (08/08), a Justiça portuguesa considerou inconstitucional normas que alteravam a Lei dos Estrangeiros, especialmente as relacionadas com o reagrupamento familiar.
As novas regras aprovadas pelo governo de Luis Montenegro, com apoio da extrema direita representada pelo Chega, querem impor barreiras burocráticas aos imigrantes no país.
Movimentos de imigrantes e organizações sociais têm se oposto às alterações na legislação, considerando-as um retrocesso nos direitos humanos e um ataque ao direito à vida em família, garantido pela Constituição e por convenções internacionais.
O post Brasileiro é agredido em Portugal com garrafadas na cabeça: ‘queremos justiça’ apareceu primeiro em Opera Mundi.