POLÍTICA

Bolsonaro quer ser preso. Por Moisés Mendes

Bolsonaro mostrando a tornozeleira eletrônica na Câmara dos Deputados. Foto: reprodução

Duas conclusões sobre as quais inexistem controvérsias. Bolsonaro é um traste abandonado pela base bolsonarista e por líderes da velha e da nova direita. E não há mais nada a fazer para salvar a ambição de Eduardo de ser seu sucessor e candidato em 2026.

Agora, as controvérsias que rendem todo tipo de especulação, com previsões para que alguns possam dizer depois: eu avisei.  Bolsonaro forçou a barra para ser preso, recuou e avançou de novo. Hoje, ele quer ser preso.

No êxtase provocado pelo anúncio do tarifaço de Trump, quando a extrema direita ainda estava em transe, ele pode ter enxergado a chance de triplicar a aposta contra Moraes e até antecipar o espetáculo da prisão.

Os bolsonaristas imaginaram que haveria uma reação nacional pró-extrema direita com o ataque do neonazista. Ocorreu o contrário. Moraes se sentiu forte para ordenar o uso de tornozeleira pelo sujeito e mandou um recado a todos: tomem cuidado porque vocês estão perdendo.

A possibilidade de Bolsonaro estar forçando a prisão parece não ter, mas tem sentido. Uma prisão preventiva agora, antes do desfecho do processo no STF, poderia provocar confusão.

Teria alto impacto político, com a criação de novos fatos na sequência, e poderia fazer com que a base bolsonarista se inquietasse de novo. Porque a condenação é esperada, está programada, mas nem tanto o encarceramento preventivo.

Nessa segunda-feira, Bolsonaro recuou de uma entrevista coletiva que daria à tarde na Câmara, depois que Moraes o alertou: se suas falas forem disseminadas pelas redes, você vai preso.

E o réu decidiu produzir algo de interpretação nebulosa. Fez um discurso, rodeado de deputados, que alguns viram como um minicomício e outros como uma entrevista. Foi quando se apresentou de novo como vítima, ergueu a perna e mostrou a tornozeleira preta.

A determinação de Moraes diz o seguinte: “A medida cautelar de proibição de utilização de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros, imposta a Jair Messias Bolsonaro inclui, obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros, não podendo o investigado se valer desses meios para burlar a medida, sob pena de imediata revogação e decretação da prisão”.

E agora? Não há referência explícita a proibição de entrevistas. Mas um alerta de que qualquer fala disseminada, mesmo que reproduzida por terceiros, pode acionar a ordem de prisão.

Ao promover a aglomeração na Câmara, discursar e fazer com que sua fala fosse divulgada, Bolsonaro burlou as medidas cautelares e o novo alerta?

Hoje, ele teria força política para produzir comoção nacional, mesmo se saísse preso da Câmara rodeado de cúmplices? Moraes cairia na armadilha de mandar prendê-lo dentro do Congresso?

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