As recentes ações do governo estadunidense contra o Brasil, incluindo a sobretaxa de 50% sobre exportações brasileiras e as sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) estão sendo interpretadas pelo Palácio do Planalto como uma chance para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistar espaços eleitorais tradicionalmente dominados pelo bolsonarismo.
Assessores presidenciais avaliam que o momento permite a Lula adotar um discurso que combina defesa da soberania nacional com uma postura antissistema, posicionando-se como líder que não recua diante da maior potência mundial.
A estratégia busca desconstruir a narrativa patriótica bolsonarista, tentando associar Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados à imagem de “traidores da pátria”. Essa guinada ocorre após um primeiro semestre turbulento para Lula, que em fevereiro registrou 41% de reprovação no Datafolha, o pior índice de seu terceiro mandato.
A recuperação começou com a campanha nas redes sociais que opunha o governo “dos pobres” contra um Congresso e empresariado “dos ricos”, que surtiu efeito após a vitória no STF sobre o aumento do IOF.
A investida de Donald Trump acelerou a adoção pelo governo de temas antes monopolizados pela direita, como a defesa da soberania nacional. Peças como “soberania nacional explicada por bichinhos”, que superou 5 milhões de visualizações no Instagram, ilustram essa nova frente de comunicação. Paralelamente, o governo busca capitalizar a defesa do Pix, mecanismo popular ameaçado por investigação comercial dos EUA, com vídeos explicativos que já atingiram 4 milhões de views.
Do outro lado, a oposição tenta vincular Lula e Moraes como responsáveis pelo “tarifaço”, enquanto prepara protestos para este domingo (3) com o mote “Fora Lula e Fora Moraes”. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), cujos posts costumam superar milhões de visualizações, já divulgou material sobre os atos que alcançou 8 milhões de views no Instagram.
O Planalto prepara agora uma nova fase da campanha sob o lema “Brasil para os brasileiros”, com peças segmentadas para diferentes públicos. A estratégia inclui retomar a pauta da reforma tributária, especialmente a isenção de IR para quem ganha até R$ 7.350 mensais, financiada pela taxação dos mais ricos – medida vista como crucial para reduzir a rejeição de Lula na classe média.
Com o retorno do Congresso, o governo espera que essa combinação de soberania nacional e justiça social possa atrair aliados de centro para 2026 ou, no mínimo, evitar que essas legendas se aliem formalmente ao bolsonarismo.
A aposta é que o enfrentamento com Trump possa consolidar uma nova imagem presidencial, reposicionando Lula como defensor dos interesses nacionais diante da pressão internacional.
