POLÍTICA

As mulheres de volta ao centro do Brasil

Depois de quase uma década sem acontecer, a 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres reuniu, em Brasília, mais de quatro mil participantes vindas de todos os cantos do país — mulheres cis, trans, travestis, lésbicas, bissexuais; mulheres quilombolas, indígenas, negras; mulheres com deficiência, mães atípicas, moradoras de rua, adictas; mulheres trabalhadoras, artistas e intelectuais, entre outras tantas representações. Foi um reencontro da diversidade brasileira com ela mesma, um gesto político de retomada da democracia a partir dos corpos e das vozes que historicamente foram excluídos do poder e da palavra.

Ficou marcado o número expressivo de mulheres negras e de mulheres trans e travestis participando das discussões — entre elas, as presenças inspiradoras de Bruna Benevides e Jovanna Baby — e também a mobilização potente das mulheres com deficiência. Essa pluralidade não foi apenas simbólica; ela se traduziu em conteúdo político. As propostas apresentadas e debatidas apontam para um feminismo verdadeiramente inclusivo, capaz de enfrentar o racismo, o sexismo, a transfobia e a lesbofobia com a força da construção coletiva.

A metodologia adotada foi exemplar. Além das delegações estaduais, houve conferências livres, que permitiram a participação de mulheres que nunca haviam pisado num espaço nacional de debate político. Ao todo, mais de 1.200 mulheres participaram diretamente do processo de formulação. É um número que fala por si: o Brasil voltou a se ouvir pelas vozes de suas mulheres.

Foram 12 painéis e 15 eixos temáticos, com destaque para o debate sobre trabalho, emprego e autonomia econômica das mulheres, além das discussões sobre cultura, comunicação e mídia — áreas que precisam incorporar o olhar feminista e popular para transformar o modo como o país produz e distribui informação. Também tivemos avanços na área da saúde, especialmente na defesa do aborto legal e seguro, e no fortalecimento das redes de apoio e solidariedade.

A conferência reafirmou que o feminismo brasileiro é, e deve continuar sendo, um campo de luta política que articula todas as dimensões da vida social. Não basta discutir gênero apenas nas “pautas das mulheres” — é preciso trazer a perspectiva de gênero, raça e diversidade para todas as políticas públicas: da economia ao meio ambiente, da educação à segurança.

Retomar as conferências é retomar o diálogo entre o Estado e a sociedade civil, depois de anos de silenciamento e retrocesso. A 5ª Conferência Nacional das Mulheres foi uma vitória da democracia e uma demonstração de que o Brasil se reconstrói pelas mãos — e pela coragem — de suas mulheres.

*Dani Balbi é escritora, roteirista, professora e deputada estadual pelo PCdoB/RJ.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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