
As declarações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (23), foram classificadas como falsas e enganosas por veículos como The New York Times, Washington Post e Associated Press.
O republicano discursou por quase uma hora — mais que o triplo do tempo reservado a líderes mundiais — e apresentou informações distorcidas sobre guerras, imigração, energia e mudanças climáticas.
Trump não encerrou sete guerras
Trump afirmou: “Da mesma forma, em apenas sete meses, encerrei sete guerras indesejáveis. Sinto-me muito honrado por ter feito isso. É uma pena que eu tenha tido que realizar essas ações em vez das Nações Unidas. E, infelizmente, em todos os casos, a ONU nem sequer tentou ajudar. Eu encerrei sete guerras, lidei com os líderes de cada um desses países e nunca sequer recebi uma ligação das Nações Unidas oferecendo ajuda para finalizar os acordos.”
Segundo o New York Times, nenhum dos sete conflitos citados foi efetivamente resolvido. Houve apenas cessar-fogos temporários ou gestos simbólicos. É o caso de Armênia e Azerbaijão, Índia e Paquistão, Kosovo e Sérvia, entre outros. Disputas territoriais e políticas seguem em aberto.
Fala enganosa sobre China e energia eólica
Trump declarou: “A maioria [das usinas eólicas] é construída na China. E dou muito crédito à China: eles as constroem, mas têm poucos parques eólicos. Por que é que eles as constroem e as enviam para o mundo todo, mas mal as utilizam? Sabe? Eles usam carvão, gás, quase qualquer coisa, mas não gostam de energia eólica. Mas, com certeza, gostam de vender os moinhos de vento.”
Os dados desmentem o presidente. O Washington Post aponta que a China é o país que mais gera energia eólica no mundo, com quase metade da capacidade global — cerca de 561 mil megawatts. Além disso, opera quase um terço de todos os parques eólicos em funcionamento, segundo o Global Energy Monitor.
Declaração distorcida sobre mudanças climáticas
Trump disse: “Em 1982, o diretor-executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas previu que, até o ano 2000, a mudança climática causaria uma catástrofe global. Ele disse que seria irreversível, assim como seria qualquer holocausto nuclear. Foi isso que eles disseram nas Nações Unidas. O que aconteceu aqui? Outro funcionário da ONU afirmou em 1989 que, em uma década, nações inteiras poderiam desaparecer do mapa porque o aquecimento global.”
O New York Times lembra que, de fato, as mudanças climáticas já têm consequências graves. O nível do mar subiu 15 centímetros em 30 anos no Pacífico, o dobro da média global. Países insulares como Tuvalu, Maldivas e Kiribati estão ameaçados de desaparecer.
Afirmação falsa sobre ambientalistas e vacas
Trump acusou: “E, nos Estados Unidos, ainda temos ambientalistas radicalizados, que querem que as fábricas parem. Que tudo pare. Sem mais vacas. Não queremos mais vacas. Acho que eles querem matar todas as vacas.”
De acordo com o New York Times, não existe qualquer evidência que sustente essa alegação.
Fake news sobre financiamento da ONU à imigração
Trump disse: “A ONU não apenas não está resolvendo os problemas, como deveria. Muitas vezes, na verdade, ela cria novos problemas para nós resolvermos. O melhor exemplo é a principal questão política do nosso tempo: a crise da migração descontrolada. É descontrolada. Seus países estão sendo arruinados. As Nações Unidas estão financiando um ataque aos países ocidentais e às suas fronteiras. Em 2024, a ONU destinou US$ 372 milhões em assistência financeira para apoiar cerca de 624 mil migrantes que se dirigem aos Estados Unidos.”
Segundo a imprensa americana, a ONU não financia migração ilegal. A agência de refugiados da ONU e o Unicef oferecem apenas ajuda humanitária, como abrigo, comida e água, a pessoas deslocadas por guerras, fome e crises econômicas.
Washington D.C. não é a capital do crime
Trump declarou: “(…) estamos reduzindo o crime. E, a propósito, falando em crime, Washington, D.C., Washington, D.C. era a capital do crime na América [antes da intervenção federal na segurança da cidade].”
Os dados oficiais mostram outra realidade. O New York Times cita que a taxa de homicídios em Washington é de 39,1 por 100 mil habitantes, abaixo da alegada por Trump e menor que a de cidades como Memphis, Nova Orleans, St. Louis, Baltimore, Cleveland e Detroit.
Assista ao discurso completo: