
No próximo domingo (21), o Rio de Janeiro será palco de um grande ato em Copacabana, onde Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, três das figuras mais proeminentes da música brasileira, unem forças em defesa da democracia e contra propostas que ameaçam o Estado de Direito no Brasil. O evento ocorrerá no posto 5 de Copacabana, a partir das 14h.
Como prévia do ato, Chico e Caetano deram uma entrevista a Jamil Chade, do Uol, em que classificaram o projeto de anistia e a PEC da Blindagem como articulações “infames” da extrema-direita. Leia alguns trechos:
Jamil Chade: Caetano, o que te levou a fazer uma convocatória para que as pessoas saiam às ruas neste domingo?
Caetano Veloso: Fiquei indignado com as notícias de que muitos deputados votaram a favor de uma lei de blindagem para eles próprios e para seus colegas. Isso junto a uma proposta de anistia para os golpistas. Acho que me identifiquei com a maioria da população brasileira, que não quer que essas coisas passem. Em 2012, Paulinha [Lavigne] e eu começamos uma movimentação que, com o golpe, virou um coletivo de artistas, juntou-se ao Mídia Ninja e ganhou o nome de 342 Artes. De lá para cá a gente vem fazendo algumas ações de impacto. Pensando nisso tudo, resolvi convocar os meu colegas.
Chade: Chico, por qual motivo é importante ir às ruas neste momento?
Chico Buarque: O nosso campo não se manifesta há um bom tempo. Estamos devendo. Estou atendendo a um chamado e tenho pensado muito nisto. Ela faz todo o sentido. Não podemos nos negar a estar presentes. Também precisamos pensar: a quem interessa desmoralizar o Congresso dessa maneira, como fizeram os deputados?

Chade: Qual a importância de lutar contra uma anistia?
Chico: Não queremos que se repita a Anistia de 1979, do fim da ditadura (1964-1985), o que permitiu que ninguém fosse punido. Em nome do combate ao comunismo ou à corrupção, tudo isso foi usado contra as liberdades e contra a democracia. Há uma semana, estávamos festejando a condenação [do núcleo crucial envolvido na tentativa de golpe] do STF (Supremo Tribunal Federal). Uma semana depois, é uma ducha de água fria. Estamos vendo que essa condenação pode ser traiçoeira.
Chade: Anistia gera pacificação?
Chico: Não. Anistia é uma tomada de posição. Ela é contrária à pacificação que representa um perdão de lado a lado. Quem cometeu o crime foram os golpistas. Nós não devemos nada a eles. “Nós”, a que me refiro, é o campo democrático. Todos são favoráveis à paz. Mas a pacificação é entre quem? Entre os golpistas, apoiadores da tortura?