
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Aldo Rebelo classificou como “anarquia institucional” a obstrução promovida por parlamentares bolsonaristas, que paralisou os trabalhos legislativos por 30 horas. A ação ocorreu para pressionar pela votação da anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro, com ocupação das mesas dos plenários da Câmara e do Senado.
Aldo, que presidiu a Câmara entre 2005 e 2007 e foi ministro em diferentes governos, afirmou que impedir votações sentando-se na cadeira do presidente cria um precedente perigoso. “Se essa moda pega, quem quiser qualquer coisa contra, é só obstruir. Isso libera a anarquia institucional completa”, disse. Para ele, esse tipo de ação deslegitima a função da Presidência da Casa.
O ex-deputado, que construiu sua carreira no PCdoB e nos últimos anos se aproximou de políticos bolsonaristas em pautas específicas, como críticas a ONGs ambientais e oposição à regulação das redes sociais, nega ter migrado para a direita. Segundo Aldo, seu posicionamento é guiado por um viés nacionalista.

O motim, iniciado na terça-feira (5), envolveu um esquema de revezamento entre os parlamentares da oposição, que passaram a madrugada nos plenários. A Polícia Legislativa isolou o local, permitindo apenas a entrada de deputados e senadores. O ato também teve como motivação protestar contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Durante as negociações, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reassumiu a Mesa após acordo com a oposição. A normalização dos trabalhos só ocorreu após intensas conversas para garantir a retomada das votações.
A obstrução reacendeu o debate sobre os limites das ações de protesto dentro do Legislativo e a necessidade de manter o funcionamento regular da Casa, mesmo diante de crises políticas. Para Aldo Rebelo, a Câmara deve preservar sua autoridade e evitar que práticas como essa se tornem rotina no Congresso Nacional.