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Ajuda humanitária volta a Gaza após impasse entre Israel e Hamas sobre corpos de reféns

O envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza foi retomado nesta quarta-feira (15), após dias de incerteza provocados por uma disputa entre Israel e o Hamas sobre a devolução de corpos de reféns mortos. Caminhões com combustível, alimentos e suprimentos médicos começaram a cruzar a fronteira, enquanto Israel se prepara para reabrir a estratégica passagem de Rafah, ponto vital para a entrada de recursos no território palestino.

Segundo autoridades israelenses, o Hamas vinha atrasando a entrega dos corpos, o que levou o governo de Benjamin Netanyahu a ameaçar manter Rafah fechada e restringir o envio de ajuda. Durante a madrugada, o grupo militante entregou mais quatro corpos, somando oito desde o início da semana — embora um deles, segundo fontes israelenses, não corresponda a um refém.

Com o avanço das negociações, uma autoridade de segurança de Israel afirmou que os preparativos para a reabertura de Rafah estão em andamento. Outra fonte informou que até 600 caminhões de ajuda devem atravessar a fronteira ao longo do dia.

Combatente do Hamas ao lado de veículos da Cruz Vermelha, que carregam reféns de volta para Israel (Foto: Bashar Taleb / AFP)

Corpos e desacordos

O impasse sobre a devolução dos corpos reacendeu tensões em torno do cessar-fogo, que interrompeu dois anos de guerra devastadora e resultou na libertação de todos os reféns vivos. Apesar da trégua, pontos cruciais do acordo ainda geram discordância, como o futuro político de Gaza e o desarmamento do Hamas.

O pacto também prevê que Israel devolva os corpos de 360 combatentes palestinos mortos em confrontos. O primeiro grupo, com 45 corpos, foi entregue às autoridades palestinas na terça-feira (14). Já 21 corpos de reféns israelenses ainda estariam em Gaza, alguns deles possivelmente perdidos em meio à destruição causada pelos bombardeios.

Enquanto isso, o Hamas reforça o controle sobre o território, reprimindo grupos locais e realizando execuções públicas, num esforço para reafirmar sua autoridade diante das negociações de cessar-fogo.

Crise humanitária e ajuda na reconstrução

A guerra deixou Gaza em colapso. A maior parte da população foi forçada a abandonar suas casas, e milhões de pessoas enfrentam fome e falta de recursos básicos. Hospitais funcionam em condições precárias, e equipes humanitárias relatam dificuldades para distribuir mantimentos.

Imagens da Reuters mostraram caminhões-tanque e veículos carregados de suprimentos se deslocando do Egito para a passagem de Rafah na madrugada desta quarta-feira. Não está claro, porém, se todos os veículos conseguiram entrar em Gaza como parte do plano de 600 caminhões diários definido pelo acordo.

Outras passagens também estão sendo utilizadas. De acordo com um oficial israelense, “a ajuda humanitária continua a entrar na Faixa de Gaza através de cruzamentos alternativos, como Kerem Shalom, após inspeções de segurança”.

A emissora Kan, de Israel, informou que as entregas de hoje incluem alimentos, combustível, gás de cozinha, remédios e materiais para reparos em redes elétricas e de abastecimento de água.

Trégua sob pressão política

Apesar do alívio temporário, o cessar-fogo continua sob risco. O ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, figura da ala ultranacionalista do governo, criticou a retomada da ajuda, classificando-a como “uma vergonha”.

Em publicação na rede X (antigo Twitter), Ben-Gvir afirmou que “o terrorismo nazista só entende a força” e que o Hamas estaria mentindo sobre a devolução dos corpos dos reféns. As declarações refletem as divisões dentro do governo israelense e a pressão de grupos que se opõem à trégua.

Enquanto o fluxo de ajuda tenta aliviar a crise humanitária, o futuro de Gaza segue incerto. A comunidade internacional busca um plano para a reconstrução do território e para o estabelecimento de uma autoridade civil estável, mas questões como o papel do Hamas e a criação de um eventual Estado palestino ainda estão longe de um consenso. Com ICL

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