POLÍTICA

América Latina teme nova era de intervenção militar dos EUA com ordem de Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado de militares americanos em base naval no Japão. Foto: Jonathan Ernst/Reuters

A ordem recente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o uso de força militar contra cartéis de drogas na América Latina reacendeu temores de uma nova era de interferência na região. A medida contrasta com a declaração do governo Obama, que, há apenas uma década, sinalizou o fim da Doutrina Monroe, tradicional política de intervenção militar.

A atual ordem de Trump, no entanto, trouxe de volta essa política de supremacia militar e intervenção direta, provocando reações mistas na América Latina. Os países mais vulneráveis à medida incluem México e Venezuela, ambos com cartéis de drogas identificados como grupos terroristas pelos EUA.

No México, a proximidade com os cartéis e o impacto direto dessa medida geraram preocupações sobre a possibilidade de novas incursões militares americanas. A resistência é forte em diversos países, que temem um retrocesso nas relações e na soberania, especialmente em nações que enfrentam guerras violentas contra o narcotráfico, como o Equador.

Para autoridades latinas, qualquer sinal de uma retomada das intervenções militares dos EUA pode reviver o histórico de agressões externas, como aquelas vistas em séculos passados. O golpe de 1954 na Guatemala, apoiado pelo governo americano, tornou-se um símbolo da política norte-americana na Guerra Fria, que frequentemente colocava seus interesses acima da soberania nacional.

Esse tipo de intervenção, que busca garantir o controle político e econômico em países da região, deixou um legado de desconfiança e rejeição. As intervenções na América Latina durante o século XX não se limitaram a golpes de Estado.

Policiais mexicanos cercam laboratório de fentanil suspeito de ser operado pelo cartel de Sinaloa. Foto: Meridith Kohut/New York Times

Em diversas ocasiões, tropas americanas ocuparam países para garantir a submissão às suas políticas, como ocorreu no Haiti e na República Dominicana. Essas incursões, embora justificadas como necessidade de manter a ordem ou combater influências externas, são vistas por muitos como uma violação da soberania dos países latino-americanos.

A Guerra Fria e os conflitos ideológicos também trouxeram uma série de intervenções que foram amplamente rejeitadas pela América Latina. Desde os golpes no Brasil e no Chile, até a intervenção no Panamá, os países da região se uniram em defesa de sua soberania e contra a ingerência externa. A reação contra a possibilidade de novas ações militares dos EUA tem sido uma constante.

A atual situação na Venezuela também tem gerado um debate intenso. O governo Trump dobrou a recompensa por informações sobre o presidente Nicolás Maduro, acusando-o de ligações com cartéis de drogas. Para algumas autoridades, essa intervenção parece ser uma solução para o impasse político, mas a história de ingerências passadas levanta questões sobre os reais interesses dos EUA.

A ameaça de intervenção  americana também se reflete na reação de críticos, que acreditam que a presença de facções partidárias nos Estados Unidos que defendem a intervenção pode moldar a política externa do país. A ameaça de enviar tropas para capturar Maduro, por exemplo, é vista por alguns como uma repetição do modelo de intervenção usado na década de 1980.

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