
O governo dos Estados Unidos não prepara novas sanções contra o Brasil. O principal objetivo de Donald Trump — desviar o foco do estigma autoritário para a esquerda — já teria sido atingido. Nesse cenário, discursos e ações aumentam a polarização política no país.
Segundo apuração do jornalista Lourival Santanna, do Estadão, o Departamento de Estado americano não tem planos, até o momento, de aplicar sanções adicionais contra autoridades brasileiras, como integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Palácio do Planalto.
O Escritório do Representante de Comércio dos EUA também não recebeu ordens da Casa Branca para estudar a aplicação de tarifas extras ao Brasil, como ocorreu recentemente com a Índia, penalizada por manter importações da Rússia. Atualmente, produtos brasileiros já estão sujeitos a tarifas de 50%, o que desestimula novas medidas comerciais.
A última ação concreta do governo Trump em relação ao Brasil foi a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, no dia 30 de julho. Dias depois, por um descumprimento de medidas cautelares, o magistrado determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL).
A medida gerou forte reação dos filhos do ex-presidente, que classificaram a prisão como injusta. A indignação dos apoiadores de Bolsonaro foi acompanhada por acusações de abuso de poder contra Moraes, disseminadas parte da opinião pública que não se identifica com a narrativa da esquerda.
Esse ambiente polarizado é considerado ideal para a estratégia de Donald Trump, que busca reforçar seu discurso internacional de combate ao autoritarismo de esquerda.
O ministro Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores. Suas flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Trump. Os aliados de Moraes no Judiciário e em outras… https://t.co/mKCsObZASP
— Embaixada EUA Brasil (@EmbaixadaEUA) August 7, 2025
Para não abrir margem a acusações de interferência em assuntos internos do Brasil, os EUA evitam, por ora, novas medidas contra autoridades brasileiras. A postura mais incisiva adotada recentemente foi uma ameaça indireta publicada pela embaixada americana no X, mas nada além disso foi formalizado.
Apesar da posição de cautela adotada pelos EUA, Lula decidiu intensificar o embate político. Em entrevista à agência Reuters, o presidente afirmou que não pretende buscar diálogo com o republicano neste momento, para evitar uma postura de “humilhação”.
O petista também entrou em contato com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para discutir uma reação do Brics contra os EUA, especialmente após Washington aplicar uma tarifa adicional de 25% sobre produtos indianos, elevando a alíquota a 50%. Vale destacar que o governo americano não adotou a mesma política tarifária contra o Brasil ou a China, com quem mantém negociações comerciais em andamento.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo articulam uma reunião com integrantes do governo Trump para apresentar atualizações sobre a situação política e jurídica no Brasil, segundo apuração da jornalista Débora Bergamasco, da CNN Brasil.
A movimentação mostra que tanto o campo bolsonarista quanto o governo Lula apostam na manutenção de um clima de tensão com os Estados Unidos como ferramenta de mobilização política interna.