
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira (6) a realização de uma acareação entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o coronel da reserva Marcelo Costa Câmara, ex-assessor especial da Presidência. O encontro está marcado para a próxima quarta-feira (13), às 11h30, na sede do STF, e tem como objetivo esclarecer contradições nos depoimentos dos dois réus sobre o monitoramento do ministro após as eleições de 2022.
A decisão atende a um pedido da defesa de Câmara, que alega ter sido “usado” por Cid em um suposto esquema de inteligência paralela.
Durante seu interrogatório, o coronel negou qualquer envolvimento em planos golpistas e afirmou que as informações repassadas sobre os deslocamentos de Moraes tinham como único objetivo ajustes na agenda de Bolsonaro e uma tentativa de aproximação com o ministro.
As contradições no caso
Marcelo Câmara, preso preventivamente desde maio, é apontado pela Polícia Federal como coordenador de um núcleo que monitorou Moraes entre outubro e dezembro de 2022. Em seu depoimento, no entanto, ele afirmou que “se sentiu usado” por Mauro Cid, sugerindo que os dados sobre os passos do ministro podem ter sido utilizados para outros fins sem seu conhecimento.
“Não era a minha intenção. Nosso objetivo ao receber essas solicitações do Cid era de ajustes de agenda e porque queríamos uma aproximação com o ministro”, declarou Câmara ao STF. O coronel negou qualquer ligação com a minuta do golpe ou com o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que teria como alvo autoridades como Moraes, o presidente Lula (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB).

Apesar das alegações, as investigações da PF revelaram mensagens comprometedoras entre Câmara e Cid, incluindo uma em que o coronel detalha a rota que Moraes faria para a cerimônia de diplomação de Lula em 12 de dezembro de 2022. Em outra conversa, no dia 15 do mesmo mês, Câmara se refere à posse de Lula como “posse do ladrão” ao informar os movimentos do ministro.
Questionado sobre as mensagens, recuperadas pela PF após terem sido apagadas, Câmara insistiu que não se tratava de monitoramento ilegal. “Se alguém quiser falar que o que eu fiz foi monitoramento, acho que é um erro. Mas ainda assim não foi feito para cometer nenhuma ilegalidade”, afirmou.
O coronel, no entanto, não soube explicar com clareza a origem das informações sobre Moraes. Segundo ele, não havia um “informante” fixo, e os dados seriam deduzidos com base em eventos públicos e no trabalho dos cerimoniais.
“Muitas vezes eu não conseguia a informação. É muito comum cerimonial, agenda e segurança estarem juntos. A gente começa a conhecer, mas não significa que aquele cara era um informante”, argumentou.
Câmara também foi questionado sobre uma mensagem em que comenta que uma minuta “não seguiu porque poderia não ter amparo jurídico”. Ele alegou que se referia a uma reportagem sobre o assunto e não ao documento em si, reforçando que nunca teve acesso a qualquer plano golpista.