POLÍTICA

Sakamoto: Eduardo Bolsonaro via mordomia em prisão domiciliar. Mundo não gira, capota

Eduardo durante ataque a Moraes. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

“Ladrão de galinha ir para a cadeia e ladrão amigo do rei para prisão domiciliar (leia-se mansão) é sinônimo de impunidade. Infelizmente, juízes se utilizam de brechas nas leis para favorecer alguns. É preciso revogar o instituto da prisão domiciliar.”

A declaração não é de nenhum político do campo democrático analisando a decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro por descumprir as medidas cautelares a ele impostas pelo STF, mas de Eduardo Bolsonaro, em uma postagem no X, quando a rede ainda se chamava Twitter, em 18 de dezembro de 2017.

Tão logo o ministro Alexandre de Moraes emitiu sua decisão sobre a domiciliar de Jair, críticos do bolsonarismo resgataram antigas declarações do deputado federal sobre esse instituto dadas em 2017 e 2018.

“Dá para levar a sério um país onde existe prisão domiciliar? O condenado é carcereiro dele mesmo!!! Se não conseguem nem monitorar as tornozeleiras eletrônicas quem dirá cada preso em seu domicílio. A lei de execuções penais e CPP precisam ser revisados urgentemente!!!”, afirmou outra, de 24 de março de 2018.

Condenado pela Lava Jato, Lula viria ser preso em 7 de abril de 2018, ficando 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Na época, o bolsonarismo gritava que prisão domiciliar era inaceitável porque queriam ver o petista no xilindró.

Sim, o mundo não gira, ele capota.

Nas redes, bolsonaristas se justificam apontando que Eduardo falava de condenados, e o pai dele ainda não foi considerado culpado pela Justiça. Bobagem. Poucos duvidam que, uma vez que ele for considerado culpado por tentativa de golpe de Estado, dissolução violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa armada, entre outros crimes, seus advogados vão pleitear que ele cumpra a pena em casa sob justificativa humanitária.

Citarão a sua situação de saúde, decorrente da facada que levou em setembro de 2018. Sim, o ex-presidente tem saúde para participar de motociata e para gritar com oficial de Justiça no hospital, mas não para cumprir pena em regime fechado.

Tão logo a domiciliar foi decretada, Eduardo, que segue nos EUA conspirando contra o Brasil, afirmou que Moraes é um “psicopata descontrolado que jamais hesitaria em dobrar a aposta”. Mas também reconheceu que a prisão ocorreu também “porque eu e meus irmãos postamos fotos dele”. Não foram fotos, mas discursos feitos para os seguidores, que celebram obstrução de Justiça e intervenção de uma nação estrangeira no país.

O ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Lucio Tavora/Xinhua

É senso comum que pais acabam se sacrificando pelos erros de seus filhos. Os de Jair foram fundamentais para levá-lo a desrespeitar as proibições impostas pela Justiça, como não usar as redes sociais para promover ataques ao julgamento que está enfrentando por tentativa de golpe ou para incitar nações estrangeiras a sancionarem o Brasil.

O clã agiu propositadamente por uma ação mais dura do STF. Como escrevi aqui ontem, para além da vitimização que Bolsonaro vai cultivar junto aos seus seguidores, o que levará ainda mais deles às ruas, a domiciliar pode impulsionar mais sanções contra o Brasil pelos Estados Unidos.

O ponto é que essa estratégia demanda uma dose extra de sacrifício do próprio Jair. Esticar a corda pode levá-lo à preventiva, e ele tem pavor da cadeia. Seria melhor torcer para Moraes não levar o Eduardo de ontem tão a sério assim.

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