POLÍTICA

O especialista em imobilizações é imobilizado ao descer do avião. Por Moisés Mendes

Marcos do Val. Foto: Divulgação

É péssima para a imagem de um especialista em técnicas de imobilização a situação enfrentada pelo senador Marcos do Val. O bolsonarista, protegido por uma habeas preventivo, escapou da prisão mas foi maneteado por Alexandre de Moraes no retorno da viagem aos Estados Unidos.

O ministro usou um recurso do qual Do Val se diz especialista. Moraes imobilizou o senador, sem lhe tirar o direito de ir e vir. Aplicou o equipamento que vem constrangendo muita gente da extrema direita, incluindo Bolsonaro, e bloqueou seu acesso a contas com dinheiro e ao PIX.

Temos mais um tornozelado e asfixiado, com a reafirmação de que Moraes não deixa afrontas sem resposta. O bolsonarismo esperneia, pede de novo uma atitude do Congresso contra o STF e vai vivendo de delírios e ilusões.

A maior dessas ilusões é a de que em algum momento Moraes ficará fraco, como disse Eduardo Bolsonaro em entrevista ao Estadão em 14 de julho: “A minha data para voltar é quando Alexandre de Moraes não tiver mais força para me prender”. Ou, como havia dito dias antes, quando não conseguir “colocar em mim uma coleira”.

As tornozeleiras são desmoralizadoras para Bolsonaro e para Do Val. O senador passou a ser monitorado um dia depois da aglomeração de Malafaia na Paulista, onde o sentimento seria o de que Moraes já está mais fraco.

As manifestações nas capitais juntaram mais gente do que o esperado, com 38 mil em São Paulo, porque o ativismo bolsonarista foi contagiado pela pregação das lideranças de que Trump havia cercado Moraes.

Mas a sequência de fatos, desde a deflagração do julgamento dos golpistas, é favorável ao ministro. Bolsonaro jogou e perdeu. Carla Zambelli perdeu. Trump está perdendo. E Do Val experimenta a chave de braço do maior inimigo da extrema direita.

Marcos do Val após colocar tornozeleira eletrônica, em Brasília
Marcos do Val após colocar tornozeleira eletrônica, em Brasília — Foto: Cristiano Mariz

O site da Cati, a empresa de segurança dele, informa que o especialista atuou nos Estados Unidos como “instrutor em imobilizações táticas, abordagens táticas, retirada de suspeitos em veículos e outros procedimentos táticos para unidades da Swat”.

O homem tático, que já usou distintivo da Swat e diz treinar até agentes do FBI, foi esperado no desembarque e retirado do aeroporto como um criminoso qualquer por agentes da Polícia Federal, a instituição que ele tenta desqualificar. É por causa dos ataques à PF que está sob investigação e não deveria ter saído do país.

Pelo histórico de suas falas e atitudes, é possível esperar algum movimento mais brusco de quem, desde a CPI da Pandemia, tem imprevisibilidade acima da média do bolsonarismo com mandato.

Do Val está na situação do instrutor de segurança que se vê obrigado, por dever profissional, a informar aos alunos que foi imobilizado e que tem, se é que tem mesmo, um truque para se desvencilhar do imobilizador.

Pelo que aconteceu nessa segunda-feira, e se a indústria nacional de tornozeleiras tiver capacidade de produção para atender à demanda, Eduardo Bolsonaro não deve voltar tão cedo.

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