POLÍTICA

A condição de Lula para aceitar telefonema com Trump

O presidente do Brasil, Lula, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Divulgação

O governo brasileiro avalia com prudência a possibilidade de uma conversa direta entre o presidente Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como forma de tentar destravar as negociações a respeito da sobretaxa de 50% que incidirá sobre cerca de 60% das exportações brasileiras a partir desta quarta-feira (7).

Segundo interlocutores do Planalto, antes de qualquer contato, é preciso saber se a Casa Branca realmente deseja essa ligação e, principalmente, se pretende restringir o diálogo à pauta comercial, sem inserir tensões políticas. Na última sexta-feira (2), Trump disse publicamente que Lula pode falar com ele “quando quiser”.

O presidente brasileiro respondeu afirmando que está aberto ao diálogo, mas fontes diplomáticas ouvidas em Brasília consideram a fala do norte-americano um gesto a ser interpretado com cautela, diante da complexidade do momento.

O Itamaraty avalia que a eventual chamada entre os dois líderes exige preparação estratégica e não pode ser feita de forma improvisada. A preocupação central do governo Lula é com o impacto direto da medida sobre a economia brasileira.

O aumento das tarifas atinge principalmente o agronegócio e setores industriais de médio porte, em um momento em que o país busca ampliar sua presença no mercado internacional. O Planalto teme que, caso a conversa entre Lula e Trump seja mal conduzida ou politizada, os danos comerciais se agravem ainda mais.

O temor é que o governo dos Estados Unidos utilize o impasse para tentar pressionar o Brasil em outras frentes, incluindo a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado e alvo de críticas de Trump em uma carta divulgada em 9 de julho.

O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

Na ocasião, o presidente norte-americano acusou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de perseguir Bolsonaro e anunciou a sobretaxa contra o Brasil em tom retaliatório. Nos bastidores, diplomatas brasileiros dizem que qualquer iniciativa de diálogo direto com Trump dependerá de um sinal mais claro da Casa Branca.

Até o momento, técnicos do Itamaraty e do Departamento de Estado norte-americano mantêm contato, mas sem avanço significativo. A equipe de Lula considera que, se o gesto de Trump foi realmente sincero, a iniciativa de agendar a ligação deveria partir de Washington.

Na semana passada, o chanceler Mauro Vieira se encontrou com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em reunião que já estava sendo planejada antes do agravamento da crise. A conversa teve tom protocolar, mas reforçou a importância de manter os canais diplomáticos abertos. Não houve, no entanto, sinalização oficial da parte norte-americana sobre mudanças na política tarifária.

Enquanto isso, outras autoridades brasileiras tentam movimentar a agenda bilateral. O vice-presidente Geraldo Alckmin mantém diálogo com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, buscando alternativas para mitigar os efeitos da sobretaxa.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também deve conversar nos próximos dias com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent. O governo Lula entende que não há pressa em dar uma resposta pública ao convite informal de Trump.

O foco, neste momento, está em preservar os interesses econômicos do país e evitar que a disputa comercial se transforme em uma crise diplomática irreversível. O Brasil espera, acima de tudo, que os EUA apresentem disposição real para negociar, sem impor condições políticas que possam comprometer a soberania nacional.

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