POLÍTICA

Quem é a economista demitida por Trump após divulgar dados negativos de emprego nos EUA

A economista Erika McEntarfer, ex-líder no Bureau of Labor Statistics (BLS),

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exonerou na sexta-feira (1) a economista Erika McEntarfer do comando do Bureau of Labor Statistics (BLS), a principal agência federal de estatísticas trabalhistas do país. A decisão foi tomada poucas horas após a divulgação de dados negativos sobre o mercado de trabalho norte-americano e veio acompanhada de fortes críticas à conduta da servidora, sem apresentação de provas.

Trump acusou ela de “manipular os números” e destacou que ela havia sido indicada pelo governo anterior. “Precisamos de números de emprego precisos”, escreveu o presidente em sua rede Truth Social. “Ordenei à minha equipe que demitisse essa indicada política de Biden, IMEDIATAMENTE. Ela será substituída por alguém muito mais competente e qualificado.”

Erika havia assumido o comando do BLS em 2023, após ser aprovada pelo Senado em uma votação ampla de 86 votos a 8, apoio que incluiu nomes do Partido Republicano, como JD Vance e Marco Rubio.

Servidora pública de longa carreira, McEntarfer tem doutorado em economia pela Virginia Tech e histórico de atuação em órgãos técnicos como o Departamento do Tesouro, o Census Bureau e o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca. Sua especialidade inclui temas como rigidez salarial, mobilidade no mercado de trabalho e aposentadoria. Em sua trajetória, jamais havia ocupado cargos de natureza política.

A demissão gerou críticas imediatas entre ex-colegas e especialistas do setor. William Beach, que liderou o BLS entre 2019 e 2023 após ser nomeado pelo próprio Trump, classificou a exoneração como “sem fundamento” e afirmou que a decisão estabelece “um precedente perigoso que mina a missão estatística da agência”.

A ex-economista-chefe do Departamento do Trabalho, Sarah J. Glynn, destacou que Erika sempre foi cuidadosa na apresentação dos dados e jamais deu conotação política ao seu trabalho.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Divulgação

Heather Boushey, pesquisadora da Universidade Harvard que trabalhou com Erika na Casa Branca, reforçou que a ex-diretora era conhecida por evitar discussões políticas e se concentrar na qualidade da análise técnica. “Ela é brilhante e respeitada entre os economistas. Aparecia diariamente focada em dados, não em política”, afirmou.

A exoneração da economista também foi lamentada por entidades técnicas como o grupo Friends of the BLS, que havia defendido sua nomeação com base em seu histórico técnico e acadêmico. A decisão de Trump veio após a divulgação de números decepcionantes sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Segundo o relatório de julho, foram criadas apenas 73 mil novas vagas, abaixo do esperado. Além disso, revisões para maio e junho indicaram 258 mil empregos a menos do que o estimado anteriormente. A taxa de desemprego subiu para 4,2%.

O governo atribuiu os problemas a falhas persistentes no sistema de coleta de dados, agravadas desde a pandemia de covid-19. Dados da própria agência mostram que a taxa de resposta à pesquisa mensal de emprego caiu de 80,3% em 2020 para 67,1% em julho deste ano.

O BLS também tem enfrentado cortes de orçamento, que impactaram a abrangência de levantamentos como o Índice de Preços ao Consumidor. Uma pesquisa da Reuters indicou que 89 dos 100 principais especialistas em políticas econômicas demonstraram preocupação com a qualidade das estatísticas divulgadas atualmente.

O temor de interferência política sobre órgãos técnicos gerou reações duras. “Politizar estatísticas econômicas é um ato autodestrutivo”, afirmou Michael Madowitz, economista-chefe do Roosevelt Institute. “A credibilidade dos dados econômicos dos EUA é a base de nossa economia. Cegar o público sobre o real estado da economia tem um histórico conhecido — e nunca termina bem.”

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